O FUTURO DO MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA EXIGE PONDERAÇÃO E RESPEITO


Com a publicação da saudação do Dr. Luís Raposo aos Amigos do MNA, do artigo do jornal Publico e da notícia da Antena 1, todos abaixo transcritos, chega ao fim a missão deste blogue independente,
feito por alguns amigos do MNA.

A luta travada nos últimos anos em defesa do MNA, impedindo a sua transferência para a Fábrica da Cordoaria Nacional, foi coroada de êxito.

Ao Dr. Luís Raposo desejamos as maiores venturas na continuação da sua carreira profissional.

Se um dia o MNA voltar a estar em perigo, regressaremos,

porque por agora apenas hibernamos.




quinta-feira, 29 de abril de 2010

O Poder só é verdadeiramente democrático quando ouve e promove a intervenção dos cidadãos.

Na conversa de fim de tarde de hoje, subordinada ao tema “Património cultural e museus: o contributo da sociedade”, intervieram a Dra. Paula Teixeira da Cruz, advogada,antiga presidente da Assembleia Municipal de Lisboa e actual vice-presidente do Partido Social-Democrata, e o Dr. Paulo Ferrero fundador e coordenador do Fórum Cidadania Lisboa. Moderou o debate o Dr. José Morais Arnaud, presidente da Associação dos Arqueólogos Portugueses.
A Dra. Paula Teixeira da Cruz, a partir da sua experiência autárquica, referiu-se à importância que tem o movimento associativo e o contributo dos cidadãos na definição das políticas públicas, especialmente em áreas de interesse comum e de tutela difusa, como são o ambiente e o património cultural. Lamentou, aliás, que a acção dos cidadãos não seja tão intensa, e até contundente, como deveria ser e que não tire partido dos recursos que apesar de tudo estão à disposição de todos. No plano jurídico e judicial citou o direito de acção popular, o contencioso administrativo e o recurso ao Ministério Público. Considerou por exemplo ser estranho o tão baixo recurso ao direito de acção popular, sendo certo que até tem tido, na prática jurisdicional, uma elevada percentagem de sucesso.
O Dr. Paulo Ferrero deu conta do seu percurso de lutador individual e depois associativo pelas causas do património e do ambiente em Lisboa. Trata-se de uma experiência de tipo novo, que pode constituir o embrião de novas formas de intervenção cívica no futuro. Não se baseia na constituição formal de associações, mas no alargamento, como mancha de azeite, de plataformas informais de encontro e mobilização por causas, tirando grande partido da Internet. Não existem aqui estatutos, órgãos directivos ou quotas; existe apenas a mobilização de geometria variável, em torno de causas que se vão sucedendo. O grau de sucesso é diverso. No caso do Forum Cidadania Lisboa, que começou por juntar dois ou três amigos e que hoje conta com cerca de centena e meia de aderentes, pode dizer-se que cerca de metade das causa patrocinadas tiveram êxito. Mas a postura é de que bastaria uma ter êxito, para que já tivesse valido a pena a iniciativa.
Os oradores e diversos intervenientes referiram-se expressamente ao caso do momento do MNA, tendo saudado o papel que tem vindo a ser tomado pelo GAMNA. Trata-se de um exemplo que fará história, quaisquer que sejam a evoluções a curto prazo e qualquer que seja o desfecho final a médio prazo.

Aspecto geral da sessão.

A Dra. Paula Teixeira da Cruz no uso da palavra.

O Dr. Paulo Ferrero no uso da palavra.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Religião, cultura, tempo e espaço… em conversa de fim de tarde com D. Carlos Azevedo e o Doutor José d’ Encarnação

Na conversa de fim de tarde de hoje, D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa, falou sobre a relação entre religião e cultura, enquanto o epigrafista e arqueólogo Doutor José d’ Encarnação se referiu principalmente à relação do fenómeno religioso com os lugares, o território.
Falou-se de religiosidade no sentido mais vernacular e amplo do termo, ou seja, no sentimento de pertença, de religação dos homens uns com os outros e com os infinitos temporais e espaciais que os rodeiam.
Falou-se ainda da patrimonialização das alfaias litúrgicas e das questões colocadas por esse duplo olhar.
Enfim, um fim de tarde sereno onde se conferiu um sentido mais profundo ao sentimento de pertença que um museu de arqueologia necessariamente suscita e até protagoniza.

Aspecto da mesa da sessão:
à esquerda, o Bispo D. Carlos Azevedo
ao centro, a secretária-geral do GAMNA, Arqta. Helena Delgado
à direita, o Doutor José d'Encarnação

Museóloga Adília Alarcão critica transferência do museu nacional em carta aberta à ministra da Cultura

A especialista em museologia arqueológica Adília Alarcão enviou uma carta aberta à ministra da Cultura na qual considera que a transferência do Museu Nacional de Arqueologia para a Cordoaria Nacional "é condená-lo a uma espécie de exílio".
"Deslocá-lo (contra a opinião competente de tantas personalidades que já se pronunciaram sobre este assunto) para a Cordoaria Nacional, é condená-lo a uma espécie de exílio ad aeternum, pois dificilmente se disponibilizarão vontade política e meios financeiros para rever a situação, por mais meio século", escreve a museóloga na missiva.
A carta aberta da especialista na área da museologia arqueológica, agraciada em 2004 com a Medalha de Mérito Cultural, foi hoje divulgada pelo Museu Nacional de Arqueologia (MNA).
Na missiva, Adília Alarcão considera que o MNA "pode aguardar, o Museu da Marinha, o Museu dos Descobrimentos ou da Viagem [recentemente anunciado pela ministra da Cultura] podem aguardar. Urgente é um debate, alargado e sem preconceitos, sobre os museus portugueses na actualidade, que ajude a desenhar-lhes uma estratégia segura para os próximos anos", defende.
Nascida em 1933, no Porto, a especialista tem vindo a acompanhar os projectos de remodelação, ampliação e reinstalação do MNA, a que dedicou estudos aprofundados desde os finais da década de 1960. Na carta aberta, Adília Alarcão aplaude, por outro lado, a decisão política deste Governo de reactivar o Museu de Arte Popular, também em Belém, que deverá começar a abrir ao público em meados de Maio, e espera que a tutela oiça as mesmas vozes contestatárias em relação ao MNA.
A museóloga concorda que o MNA está há décadas mal instalado e não tem espaço onde se encontra, e que deveria ser acolhido num edifício criado de raiz para o efeito.
"(...) Os requisitos exigidos pelo significado das suas colecções e pela natureza do serviço público para que está vocacionado (...) não podem, de todo, encontrar resposta adequada na Cordoaria Nacional", sustenta, recordando também o "risco sísmico e de inundações, aparentemente maior neste local da Junqueira do que nos Jerónimos".
O director do MNA, Luís Raposo, tem defendido a realização de novas sondagens na zona da Cordoaria para garantir a segurança da transferência do acervo do museu, enquanto a tutela tem vindo a reafirmar que os riscos não são ali mais elevados do que no Mosteiro dos Jerónimos.

A Carta Aberta pode ser obtida e lida na íntegra em:
http://ml.ci.uc.pt/mhonarchive/archport/msg08772.html

sábado, 24 de abril de 2010

Elísio Summavielle e as reservas do MNA: mera pusilaminidade ou crapulice ?



Muitos amigos e frequentadores do MNA têm-nos feito saber da sua indignação pelo modo desprimoroso e totalmente falso como o secretário de Estado da Cultura se referiu no Parlamento às reservas do MNA. Alguns perguntam-nos mesmo se isso é verdade, porque custa a acreditar.
Com efeito assim foi.
Reproduz-se abaixo o diálogo estabelecido entre o deputado João Serrano, do PS, e Elísio Summavielle. Ao fingimento de perguntas do primeiro, baseado em informações que lhe foram dadas do interior do MC (o dito senhor deputado nunca visitou as reservas…), Summavielle responde com a sua habitual doce leveza irresponsável.
Os profissionais do MNA, os amigos e todos os utilizadores das reservas, que constituem muito justificadamente um ex-libris do Museu, sentem-se no direito de exigir desculpas públicas, sem o que se terá de acrescentar à pusilanimidade uma outra condição, a da crapulice.



sexta-feira, 23 de abril de 2010

Duas ideias-chave da “conversa de fim de tarde” de 22 de Abril. Primeira: O Património Cultural é um direito/dever de cidadania e uma função de soberania. Segunda: Faz falta planeamento estratégico na zona Belém-Ajuda.

Teve lugar ontem a 2ª conversa de fim de tarde, desta vez sobre o tema “Património Cultural e Cidadania”. Intervieram Guilherme Oliveira Martins, Simonetta Luz Afonso e Raquel Henriques da Silva. Pedro Roseta, Presidente da mesa da AG do GAMNA voltou a assegurar as funções de moderador, que passou no final da sessão a Raquel Henriques da Silva, vice-presidente da mesma mesa da AG do GAMNA.

Guilherme Oliveira Martins na sua intervenção referiu-se em especial à Convenção Relativa ao Valor do Património Cultural para a Sociedade, do Conselho da Europa, também conhecida como “Convenção de Faro”. Esta Convenção diz respeito ao património material (as “pedras mortas”), património imaterial (as “pedras vivas”) e à criação contemporânea, considerando todos estes domínios como direitos sociais de novo tipo, como direitos e deveres de cidadania. Este mote foi mais tarde retomado pelo mesmo interveniente, em resposta ao director do MNA, sublinhando que na leitura do texto constitucional a protecção, valorização e divulgação do património cultural constitui função de soberania. Neste contexto salientou a extrema importância de que se reveste o inventário do mesmo. Informou ainda que, na sua condição de Presidente do Tribunal de Contas, tinha já salientado esta prioridade à Assembleia da República.

Raquel Henriques da Silva referiu-se às origens do conceito e da prática cidadã de defesa do património nacional, tendo salientado em especial a figura de Alexandre Herculano – cuja vida e obra devem continuar a servir de inspiração para o presente. Na sua intervenção fez expressa alusão à situação do MNA, manifestando também a importância que os movimentos de cidadãos têm neste tipo de causas.

Simonetta Luz Afonso abordou a questão da divulgação, partindo da premissa de que “só se ama aquilo que se conhece”. Centrou-se na realidade de Lisboa e recordou algumas das propostas constantes da Carta Estratégica de Lisboa no que respeita à organização do eixo que vai do Terreiro do Paço a Belém, tirando partido da importância e diversidade dos equipamentos museológicos e monumentais neles instalados. Chamou a atenção que quaisquer medidas parcelares num território tão rico quanto sensível correm o risco de ser contraproducentes, senão estiveram ancoradas em visões globais de carácter estratégico.

Intervenção inicial de Pedro Roseta.

Guilherme Oliveira Martins no uso da palavra.

Raquel Henriques da Silva no uso da palavra.

Simonetta Luz Afonso no uso da palavra.

Aspecto geral da assistência.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Mais de 2600 subscritores no Facebook

A força das novas modalidades de comunicação e adesão a causas está à vista: A petição EM DEFESA DO MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA no facebook tem mais de 2,600 subscritores.
Adira também:
http://www.causes.com/causes/467248/about -

terça-feira, 20 de abril de 2010

Petição “Em Defesa do Museu Nacional de Arqueologia”: MAIS DE 1500 SUBSCRITORES !

A Petição baseada na Declaração da AG do ICOM Portugal, que temos vindo a promover, ultrapassou já os 1500 subscritores ! Trata-se de um resultado extraordinário, atendendo ao tema e ao pouco tempo.
Uma delegação do GAMNA esteve na Assembleia da República aquando da audição parlamentar da Comissão de Ética, Sociedade e Cultura à senhora Ministra e ao senhor Secretário de Estado da Cultura e conseguiu que fossem entregues à Ministra e ao Presidente da Comissão cópias da Petição e das assinaturas então existentes (cerca de 1300).
A continuação da adesão, com o bom ritmo que tem tido, leva-nos a prolongar a subscrição por mais alguns dias. E depois será feito novo envio para o Ministério da Cultura.

Património Cultural – Memória Comum: MUSEUS NACIONAIS – ARQUIVOS DE MEMÓRIA

Teve lugar hoje a primeira sessão do ciclo de “conversas de fim de tarde” organizadas pelo GAMNA em torno do tema geral PATRIMÓNIO CULTURAL – MEMÓRIA COMUM.
A sessão inaugural foi dedicada ao tema MUSEUS NACIONAIS – ARQUIVOS DE MEMÓRIA e contou com as intervenções de Adília Alarcão, Natália Correia Guedes e José Cardim Ribeiro. Apresentou o ciclo e moderou a sessão o Presidente da Mesa da AG do GAMNA, Pedro Roseta.
Esteve presente larguíssima audiência, com relevo para muitos profissionais de museus.
A situação presente por que passa o MNA esteve subjacente e foi mesmo referida em várias intervenções, havendo consenso em a verdadeira solução para os problemas de instalação do Museu é da construção de raiz, em local apropriado de Lisboa.
Mereceu particular atenção o conceito de “Museu Nacional”, tendo sido proposto que a criação, extinção ou reinstalação de Museus com esta categoria constitui matéria de cidadania tão grave que impõe a adopção de métodos de decisão transparentes e democráticos, quer dizer, tecnicamente informados pela audição das comunidades de especialistas e sujeitos a discussão pública. É aliás essa norma que decorre do espírtio e da letra da Lei-Quadro de Museus que não está a ser devidamente cumprida. Estão em causa arquivos de memórias essenciais que não constituem propriedade de nenhum Governo particular, faltando legitimidade aos governantes para decidirem a seu bel-prazer.

Na 5ª feira, dia 22 de Abril, pelas 18 horas, o ciclo prossegue com uma sessão que promete: PATRIMÓNIO CULTURAL E CIDADANIA, com intervenções de Guilherme Oliveira Martins, Simonetta Luz Afonso e Raquel Henriques da Silva. Rigorosamente a não perder.

Aspecto geral

No uso da palavra, a Dra. Adília Alarcão.

No uso da palavra, a Dra. Natália Correia Guedes.
 
No uso da palavra, o Dr. José Cardim Ribeiro.

sábado, 17 de abril de 2010

Um estudo geotécnico do LNEC custaria 40 a 50 mil euros, diz o Prof. Aníbal Costa ao semanário SOL - afinal de que têm medo Canavilhas e Summavielle ?

Em declarações ao semanário SOL, o Prof. Doutor Aníbal Costa, catedrático da Universidade de Aveiro e Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica diz que um estudo geotécnico pedido ao LNEC poderia custar entre 40 a 50 mil euros. Ou seja, um valor irrisório quando comparado com as dezenas de milhões de euros que estão em causa neste projecto e sobretudo quando comparado com a importância da defesa do acervo do MNA.
Lembramos que o Professor Aníbal Costa é o autor do parecer comparativo entre Jerónimos e Cordoaria, pedido pelo director do MNA, e que conclui que os dois locais não são idênticos em matéria de riscos, com desvantagem para a Cordoaria.
O estudo geotécnico encomendado ao LNEC em 2000 pelo MNA / IPM para saber das condições do Jerónimos demorou cinco meses a ser feito. Quer isto dizer que se a ministra Canavilhas tivesse mesmo cumprido o que prometeu aos jornais em Dezembro, esse estudo estaria agora quase pronto. Mas em vez disso entendeu confiar no secretário de Estado Summavielle, que lhe pôs nas mãos um parecer feito num mês, com base em estudos generalistas (o único estudo de pormenor, da empresa HIDRA, conclui que na Cordoaria existem efectivos riscos graves de inundação que requerem adopção de medidas de desvio de caudais do rio Seco e de impedimento de entrada de caudais do Tejo – o que nada foi ainda feito e só por si constitui impedimento da instalação do MNA naquele local).
Nestas condições, justifica-se plenamente a pergunta que o deputado do PCP João Oliveira colocou àqueles governantes na audição parlamentar da semana passada: de que têm medo os responsáveis do Ministério da Cultura ?
Será que a resposta só será obtida em tribunal ?

Ministra Canavilhas: má informação, casca de banana ou má fé ?

Durante a audição parlamentar da semana passada a ministra Canavilhas disse a dado momento que o MNA sempre esteve a título precário nos Jerónimos e que já o Doutor Leite de Vasconcelos assim o considerava.
Será esta mais uma “casca de banana” que lhe foi posta pelo secretário Summavielle ?
É que se trata de uma completa inverdade, daquelas em que Summavielle é useiro e vezeiro.
Basta citar esta passagem de uma carta do Doutor Leite de Vasconcelos para António Tomás Pires, em 1903, quando estava a meio da mudança da Academia das Ciências para os Jerónimos:

Felizmente consegui que o Governo me desse a mais linda casa a que eu podia aspirar para o Museu! Não tenho inveja a nenhuns Museus agora, pois estou magnificamente: em Belém, numa ala independente e grande, com boa mobília e luz. Já tenho mudada mais de metade. Agora alargo o plano, e sigo o que esbocei na Revista Lusitana...

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Declarações do Director do MNA, no noticiário do Radio-Clube Português, às 8 h, em 16 de Abril de 2010

Luís Raposo, Director do MNA, no noticiário do Radio-Clube Português, às 8 h, em 16 de Abril de 2010:

quarta-feira, 14 de abril de 2010

As mistificações de um secretário de Estado pusilânime

Durante a audição hoje havida da Assembleia da República e em que muito se falou do Museu Nacional de Arqueologia, o senhor secretário de Estado da Cultura (mais até do que a senhora ministra) foi pródigo em inverdades acerca do MNA. A táctica é a de sempre, ou seja, explorar o desconhecimento dos deputados para lhes “dar a volta”, como se diz que se costuma gabar depois das prestações que aí tem feito.

Eis alguns exemplos das inverdades do dito senhor secretário de Estado:

- disse que existem muitos arqueólogos e museólogos que concordam com a passagem do MNA para a Cordoaria; para além do Dr. Cláudio Torres, cita dois: Vítor Oliveira Jorge e Natália Correia Guedes; acontece que o primeiro subscreveu e até deixou comentário no abaixo-assinado do ICOM sobre o assunto e que nós promovemos neste blogue; e a segunda participa no nosso ciclo de “conversas de fim de tarde” tendo no início dos anos de 1980 precisamente dado encaminhamento aos pareceres que negavam a validade dessa transferência, que tinha então sido também tentada

- disse que não conhece as reservas do MNA, mas que sabe que são muito más e até têm peças embrulhadas em jornais dos anos de 1930… Aqui fica reconhecida toda a incompetência deste senhor governante, porque todos sabemos que as reservas do MNA são um dos seus principais motivos de orgulho, sendo apresentadas internacionalmente; e onde estão essas peças embrulhadas em jornais ? Porque é que o senhor não visita as reservas como nós o podemos fazer várias vezes ao ano quando durante os dias de “museu de portas abertas” ? Evitava o triste espectáculo que deu e evitava termos de lhe chamar mentiroso.

- disse que possui muitos estudos sobre a Cordoaria, mas quase só citou estudos gerais, nenhum estudo específico; o único estudo mais detalhado que citou, sobre o rio Seco, feito pela empresa HIDRA, conclui precisamente que existem riscos de cheias e que é preciso instalar todo um sistema de protecção e válvulas que ainda não existe e que será um custo adicional significativo; citou a conclusão do parecer que encomendou a dizer que Cordoaria e Jerónimos têm os mesmos riscos e disse que era o único parecer comparativo. Ora isso é mentira, porque existe um outro parecer, do Prof. Aníbal Costa, igualmente comparativo e que conclui o contrário

- disse que o parecer do LNEC para os Jerónimos concluía que existiam perigos significativos em abrir caves, quando as conclusões são precisamente ao contrário

- disse que uma ampliação do MNA nos Jerónimos podia pôr em perigo a classificação como Património Mundial. Aqui foi mesmo bacoco porque todos conhecemos numerosos monumentos do Património Mundial, por esse Mundo fora, que foram profundamente intervencionados em benefício dos museus que albergam; basta lembrar o Louvre…

- disse que na Cordoaria o MNA quadruplicará a sua área. Mas como ? Nos Jerónimos tem 7000 m2 e na Cordoaria poderá passar para 14000 m2. Será que o senhor vê a dobrar ?

- disse que os estudos geotécnicos serão feitos na Cordoaria como projectos de especialidade, depois de entregue o programa do museu e de iniciado o projecto de arquitectura, como se o que estivesse em causa não obrigasse a estudos e sondagens prévias, condicionantes da arquitectura e talvez mesmo determinantes de toda a intenção, mais que não seja pelos custos acrescidos que podem acarretar.

E quanto à senhora ministra, que mostrou pouco percebe de tudo isto, também teve o seu momento infeliz, quando sugeriu que o director do MNA não quer sair dos Jerónimos com medo de perder visitantes, aventando mesmo que talvez só tenha os números que tem por estar onde está. Mas em 10 anos o MNA passou de 6º ou 7º museus mais visitado para 2º dentro do Ministério da Cultura e esteve sempre nos Jerónimos. Então a que é que se deve essa evolução no ranking ? Não será por causa das actividades realizadas e da torre oca, já agora.

A torre oca foi muito falada, para dizerem que o museu só a tem há 14 ou 15 anos, que não é assim tão importante, etc. etc.

Não há melhor resposta do que a forma como a Dra. Simonetta Luz Afonso informou há 17 anos (e não 13, 14 ou 15), o director do MNA da altura sobre o bom resultado das suas negociações para trazer a torre oca para o domínio do MNA. Dizia ela (ofício distribuído aos senhores deputados durante a visita ao MNA e que aí recolhemos também):

“Venho informar V. Exa. que após longas negociações levadas a cabo por este Instituto foi finalmente cedida a tão ambicionada Torre Oca a esse Museu por despacho de 3 de Novembro de Sua Excelência o Chefe de Estado Maior da Armada.
Faço pois votos que ganho e recuperado este espaço vital para o desenvolvimento do programa do Museu que dirige, possa V. Exa. e a equipe que coordena passar a desenvolver um programa regular de apresentação e divulgação das colecções desse Museu em prol da divulgação da Arqueologia portuguesa”.

Enfim, um espectáculo deprimente, de pusilanimidade, que não resistirá muito ao tempo, por muito que a cobardia do senhor secretário de Estado o leve a evitar todo e qualquer tipo de debate público técnico destes assuntos.

É que podem enganar-se poucas pessoas por muito tempo; muitas pessoas, por pouco tempo; mas não se podem enganar muitas pessoas por muito tempo.

E o tempo desta equipa governamental da Cultura é manifestamente limitado.

Argumentos a respeito da questão dos inconvenientes da adaptação e instalação do Museu de Arqueologia na Cordoaria.

Para além do que se tem dito, existem outros argumentos a respeito da questão dos inconvenientes da adaptação e instalação do Museu de Arqueologia na Cordoaria, que se balizam no valor do património industrial (património mal querido em Portugal, por sucessivos governos, que continuam a dar somente importância aos patrimónios clássicos, ainda por cima mal assimilados.
Por outro lado, as colecções do Museu de Arqueologia necessitam de ser integradas em condições muito especiais no interior do monumento e não há possibilidade, mesmo um bom projecto de arquitectura (porventura assinado pelo melhor arquitecto mundial) conseguir realizar a junção dos valores inerentes à museologia, à arqueologia de várias épocas (integrando mesmo a arqueologia industrial) com a defesa estrita e especial que o património industrial põe a nu no edifício da cordoaria.
Na realidade trata-se de um edifício cujo modelo pode encontrar-se na era das manufacturas e especialmente devido ao programa industrial do absolutismo mercantilista de Colbert que depois teve eco em vários países, nomeadamente em Portugal nos reinados de D. João V e D. José I. Naquele tempo era necessário meter e moldar o fabrico de cordame dos espaços abertos para o interior de edifícios e, por essa razão, a nossa cordoaria revela um pequeno pé direito, tem uma sequência impressionante de asnas à francesa que dão relevo ao modelo arquitectónico escolhido. Por outro são alas e tem entre elas saguões abertos, que a serem fechados (para criar espaços para o museu de arqueologia) transformam a cordoaria num edifício vulgar. Note-se que está classificado como monumento nacional pelo património e arquitectura industrial que revela ainda (mas sem o património integrado que o Museu da Marinha e os seus pouco esclarecidos directores, foram removendo, removendo, contra as próprias decisões inerentes a essa salvaguarda (apoiados é certo em falta de ciência do IPPAR / IGESPAR).
Por isso o principal argumento de combate à idiossincrasia ministerial e sobretudo dos conselheiros que envolvem a Ministra, é o argumento desenvolvido do património industrial e da perda patrimonial que irá necessariamente ocorrer com a adaptação da cordoaria a museu de arqueologia.
Aliás, este argumento nem sequer está estafado, pois os prós e os contras estão na questão das condições sísmicas, hidrológicas e da natureza dos terrenos onde assenta a cordoaria. Por outro lado, ninguém falou até agora da construção da cordoaria sobre estacaria de madeira. Nem ainda vi ninguém referir que junto à cordoaria vai entrar um túnel para albergar a entrada do nó ferroviário de Alcântara, túnel que irá pressupor trabalhos de arqueologia subaquática, veja lá, quanto estamos perto das bacias hidrográficas e das praias fluviais, quando falamos de cordoaria nacional. 
Assim eu defendo - Museu da Marinha para a Cordoaria (lugar ideal e com exemplos consagrados na Europa). Museu do Espaço Português no Mundo no Anexo do Mosteiro dos Jerónimos. Museu de Arqueologia um novo museu de raiz, para saber integrar os conceitos, as práticas e os novos patrimónios da arqueologia.

Jorge Custódio

Entrevista do Dr. António Carlos Silva ao Radio Clube Português

Reproduzimos a informação dada pelo Prof. José d' Encarnação na lista Archport

Esta tarde, António Carlos Silva deu uma entrevista ao RCP, em directo, no programa "mais vale tarde".

terça-feira, 13 de abril de 2010

Última hora: BE entrega proposta para suspender transferência dos museus de Arqueologia e dos Coches

O Bloco de Esquerda (BE) entregou hoje no Parlamento um projecto que pretende suspender a transferência dos museus de Arqueologia e dos Coches da zona de Belém, em Lisboa.
O grupo parlamentar bloquista propõe ao Governo que “suspenda todas as acções relativas à transferência de museus e à criação de novos museus no eixo Ajuda/Belém, até à elaboração de um plano estratégico”. 
Este plano, segundo o BE, deve incluir a “avaliação de infraestruturas, projectos museológicos, estudo de públicos e acessibilidades, previsão de custos, fontes de financiamento e calendarização”.
Considerando que “o conjunto de museus do eixo Ajuda/Belém consubstancia um caso singular de sucesso em Portugal”, o grupo parlamentar bloquista propõe “um amplo debate público”.
Este debate “sobre as alterações aos museus” deveria envolver associações dos sectores da museologia e conservação, Câmara de Lisboa, Associação de Turismo e “especialistas nacionais e internacionais das áreas do património, da museologia e da arquitectura”.
O BE quer ainda que seja feita uma “sondagem às fundações” da Cordoaria Nacional, à Junqueira, pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil, “para averiguar as condições de estabilidade e de segurança daquele património, tendo em conta as características do edifício e do local onde está implantado” e para onde está previsto mudar o Museu de Arqueologia.
O BE pretende também que se “avalie os vários projectos museológicos e sua relação com os edifícios existentes, bem como com novos edifícios a construir, face às necessidades dos museus que já existem e à eventual criação de novos museus ou unidades museológicas”.
O último ponto do projecto de 11 páginas propõe que se efectue um “plano estratégico para a reconfiguração do conjunto de museus no eixo Ajuda/Belém”.
Este plano, segundo o texto, deve incluir a “avaliação de infraestruturas, projectos museológicos, estudo de públicos e de acessibilidades, bem como de sustentabilidade das instituições, previsão dos custos, fontes de financiamento e calendarização de todas as acções relativas à transferência de museus e à criação de novos museus no eixo Ajuda/Belém”.
Afirmam os bloquistas que “não tem sentido iniciar movimentos de reconfiguração que põem em causa as instituições e a sua relação com os públicos, bem como as colecções e projectos museológicos, sem fundamentação e estudo aturado das condições e previsão de custos dessas alterações”.
Para o BE, “não é aceitável iniciar um processo que pode ser travado a todo o tempo por problemas de infraestruturas, financiamento ou exigências museológicas”.
13.04.2010 - 19:22 Por Lusa

Museus europeus chamam Luís Raposo a Cambridge

Diário de Notícias, 13 de Abril de 2010

domingo, 11 de abril de 2010

Director do MNA não está isolado e conta com o vasto apoio da generalidade dos arqueólogos

Com a devida vénia, transcrevemos a opinião do Doutor Francisco Sande Lemos, expressa na lista Archport:

 Os portugueses, aqueles que vivem dos seus salário, têm os impostos em ordem, não escondem o dinheiro em offshores, não facilitam os atropelos da Lei, etc... têm assegurado o Reino do Céus pela sua infinita paciência em aturar políticos que desbaratam os dinheiros públicos, lançam obras absurdas como o Museu dos Coches, propõem-se gastar milhões em transferências de Museus e desdobram-se em intervenções de mera propaganda.
A equipa ministerial da Cultura e a Direcção do IMC tem desafinado de tal modo que mesmo os mais duros de ouvido (como é o meu caso) se ressentem. Como pode o Doutor João Brigola referir 15 milhões de euros para uma eventual adaptação da Cordoaria se não existem os estudos prévios nem os projectos? Pela sua falta de preparação para o lugar devia ser afastado por demagogia e inépcia.
Outro aspecto extraordinário é o da Ministra raciocinar como se a Lei tivesse um único sentido, ou seja apenas do poder em relação aos funcionários (ameaçadas veladas ou directas de processos disciplinares). Na verdade a Ministra está, tal como os funcionários, obrigada a cumprir a Lei. Assim não seria descabido alertar o Ministério Público. Os projectos da Ministério da Cultura podem colocar em risco bens móveis classificados e inventariados, o que vai contra toda uma série de artigos da Lei do Património. O Director do Museu já explicou isso à Ministra e em público. Para que, no meio de tanta casos de ilicitude que inundam a Justiça, não se perca mais este, talvez fosse útil alertar formalmente o Ministério Público para os atropelo legais que se avizinham.
Visto com frieza esta mudança prevista do MNA é um episódio esquizofrénico num país sem dinheiro para assegurar o funcionamento dos serviços básicos que cumprem ao Estado. E no actual contexto de crise financeira é um disparate infantil.
Para que as pessoas avaliam bem o estado a que chegaram a contas do país basta referir que a Câmara Municipal de Braga liderada pelo insólito Mesquita Machado paga por mês, pelo empréstimo de financiamento da construção do Novo Estádio Municipal, a módica quantia de cerca de 380 mil euros e que a obra inicialmente prevista para custar 30 milhões ficou por 120 milhões de euros. Aliás desconhece-se o efectivo custo final pois há inúmeros processos cíveis em curso na sequência de conflitos entre o executivo camarário e construtores.
Aparentemente a Ministra Gabriela Canavilhas quer entrar na mesma galera de perseguidores do Património Arqueológico, ao lado do ilustre Engenheiro de Braga. 
No fundo o que se pede é que haja Bom Senso. Primeiro terminem o Museu do Côa. E depois estudem uma solução para o Museu Nacional de Arqueologia. Faço votos para o que o Dr. Luís Raposo não ceda às pressões do poder político mostrando que os cidadãos respeitadores da Lei e que cumprem os objectivos para que foram nomeados têm óbvia primazia sobre ministros e directores gerais de ocasião que se regem por inspirações políticas conjunturais. O Director do Museu não está isolado e conta com o vasto apoio da generalidade dos arqueólogos.
Francisco Sande Lemos

sábado, 10 de abril de 2010

Ministra da Cultura revela que tem tido muita paciência com o Director do MNA

À TSF, a ministra Gabriela Canavilhas afirmou que tem tido «muita paciência» com o director do Museu Nacional de Arqueologia, referindo às critícas dos planos da tutela para este museu.
A ministra Gabriela Canavilhas sublinhou que para já não encontra motivos para substituir o director do museu, ainda que não confirme se mantém a confiança em Luís Raposo.
«Nunca disse que havia uma substituição, nem até ao momento há alguma razão para o substituir. Só quando houver alguma falta por parte de um funcionário público é que se inicia um processo disciplinar», explicou.
Questionado sobre se mantém mantém a confiança em Luís Raposo, a ministra respondeu: «Eu mantenho imensa paciência com o director do Museu de Arqueologia porque tenho lido coisas fantásticas na comunicação social, declarações dele, e portanto tenho mantido a minha paciência».
A ministra da Cultura vai ao Parlamento na próxima semana para prestar esclarecimentos sobre este assunto aos deputados da Comissão de Ética, Sociedade e Cultura.
Áudio, aqui:
http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=1540211

Comentário:
A Paciência (Patientia) é uma das virtudes públicas romanas, que parece estar representada numa das estátuas do Palácio da Ajuda. Mas outra virtude pública é a Libertas (Liberdade) e por cima destas virtudes públicas existem as virtudes privadas, bem mais importantes, porque estruturam o ser humano. Uma destas últimas é a Veritas, para quem não saiba, a Verdade.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Ainda a "mudança" do Museu Nacional de Arqueologia, por António Carlos Silva

Mais um testemunho de alguém que conhece profundamente os desenvolvimentos da arqueologia portuguesa nas últimas décadas... Aqui faz-se história, também.

Na nota introdutória à corajosa entrevista de Luís Raposo à revista Visão do passado dia 1 de Abril, regista-se que aquele arqueólogo dirige o Museu Nacional de Arqueologia há 14 anos mas ali trabalha já há 30. Este dado cronológico não deixa de ser relevante para a circunstância que está na origem da entrevista (a pública ameaça de demissão do entrevistado por desacordo “técnico” em relação a uma decisão “política”) na medida em que a larga experiência assim demonstrada, não deixará de credibilizar a opinião em causa. No entanto, aquele algarismo “redondo”, que nos remete directamente para o ano de 1980, está longe de representar no contexto da Arqueologia portuguesa, uma simples efeméride individual…
Com efeito, em meados daquele ano, face a um conturbado período por que estava a passar o então designado “Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia” (graves conflitos entre funcionários, encerramento ao público, desaparecimento de importantes artefactos…), Vasco Pulido Valente, Secretário de Estado da Cultura do Governo da Aliança Democrática dirigido por Sá Carneiro, convidara Francisco Alves, o arqueólogo que anos antes fundara com reconhecida eficácia o Campo Arqueológico de Braga, para reabrir o velho Museu de Belém e lançar as bases de uma estrutura de gestão da Arqueologia portuguesa no âmbito do novíssimo Instituto do Património Cultural (o IPPC, antepassado directo o IPPAR e actual IGESPAR) então em formação. A missão não era fácil mas Francisco Alves aceitaria o desafio com duas condições prévias: “carta branca” para constituir uma equipa de “arqueólogos”, numa época em que a profissão praticamente não existia, e abertura do Governo à criação de Serviços Regionais de Arqueologia capazes de responderem no terreno às crescentes exigências que o desenvolvimento do país colocava à arqueologia de salvamento. Vasco Pulido Valente alinharia, facilitando o destacamento de mais de uma dezena de professores com prática arqueológica e acrescentando à Lei Orgânica do IPPC, uma pequena estrutura de arqueologia descentralizada (a única até à criação do IGESPAR e respectivas direcções regionais) com serviços regionais em Braga, Coimbra e Évora. Obviamente, tanta “generosidade”, também teria o seu “preço”… A nova equipa tinha de reabrir o Museu em tempo record (“antes das eleições presidenciais” que ocorreriam no final desse ano) e com algo que se “visse”. Definidas e aceites as “regras do jogo”, o grosso da equipa, entraria no Museu Nacional de Arqueologia apenas no dia 1 de Outubro de 1980, onde Francisco Alves e alguns colaboradores mais próximos preparavam já duas grandes exposições para a reabertura do Museu. Tive a sorte de estar nesse grupo, com outros colegas da minha geração, saídos poucos anos antes das Faculdades de Letras de Lisboa mas também de Coimbra e do Porto, e naturalmente entre eles também estava já o actual Director do MNA. Curiosamente poucos seriam simpatizantes da AD, bem pelo contrário, mas ninguém se enganara ou fora ao engano – a política era então algo bem mais transparente - e em Dezembro desse mesmo ano, praticamente nas vésperas do acidente aéreo que o vitimaria, Sá Carneiro inaugurou no MNA, no que seria o seu último acto público como 1º Ministro, as duas grandes exposições, “A 2ª Idade do Ferro no Sul de Portugal” e “Tesouros da Arqueologia Portuguesa”, que marcariam não só o “renascimento” do Museu de Belém mas também toda uma nova fase da Arqueologia portuguesa. Convém recordar que o Departamento de Arqueologia do IPPC que coordenava os respectivos Serviços Regionais, funcionaria durante alguns anos no próprio Museu, e não apenas por questões de falta de espaço no Campo Grande ou na Ajuda… Retomando uma tradição que remontava à fundação do próprio Museu, as suas estruturas (laboratórios de restauro, armazéns, biblioteca…) e os seus técnicos alargavam a sua intervenção ao terreno sempre que a salvaguarda do património arqueológico o exigia. E nessa altura, Departamento de Arqueologia do IPPC e Museu, não apenas compartilhavam espaços e meios, como muitas vezes integravam projectos comuns, contribuindo para o desenvolvimento de novas e indispensáveis estruturas da Arqueologia portuguesa, como a “Arqueologia Subaquática” ou os “Laboratórios de Investigação Paleoambiental”.
Muita coisa aconteceu desde então. Depois de uma fase de grande expansão da Arqueologia de Salvamento promovida directamente pelo Estado, via Serviços Regionais de Arqueologia, assistiu-se a uma grave “crise de crescimento” no início dos anos 90, provocada pela incapacidade daquele modelo responder às cada vez maiores exigências de salvaguarda impostas às obras públicas ou privadas. A criação do IPA, na sequência do caso mediático do Côa, representou o último fôlego de uma resposta que na Cultura passava pela fragmentação de competências por novas instituições. Ainda assim, o IPA mais do que uma estrutura nova, representou, a congregação de pequenas unidades antes dispersas, (algumas delas nascidas no próprio MNA) funcionando como interface disciplinador entre as obrigações do Estado nesta matéria e as empresas de arqueologia que nasceram então para dar resposta às exigências de salvaguarda patrimonial em ambiente de obra. O Museu, entretanto, voltara-se mais sobre si mesmo, com óbvias vantagens no que respeita à gestão, estudo e divulgação das suas vastas colecções, privilegiando o contacto com o público, mesmo com a sua crónica falta de espaço, através de grandes exposições temáticas, conferências ou visitas de estudo. E, tirando partido do sítio magnífico em que se localiza, tornar-se-ia rapidamente num dos mais visitados Museus Nacionais.
Quem esteja, pois, minimamente a par da história das últimas três décadas do Museu Nacional de Arqueologia, compreenderá melhor do que ninguém a “angústia” do seu Director, perante as “perspectivas” que se lhe deparam e os extraordinários “exemplos” dos recentes processos de “decisão” e “planeamento” associados ao projecto do Museu dos Coches e dos danos colaterais provocados, irresponsavelmente, na Arqueologia portuguesa. Apesar da decisão estar tomada há vários anos pelo Ministério da Economia (?) foi preciso a empresa construtora começar a derrubar os muros dos edifícios onde o IPA funcionara durante uma década, para o Ministério da Cultura “acordar” e começar a procurar “instalações” para os serviços que ali continuavam “teimosamente” a funcionar. A utilíssima “Biblioteca do Instituto Arqueológico Alemão”, oferecida ao Estado Português, foi entretanto encaixotada, os arquivos da Arqueologia Portuguesa, foram para os corredores do Palácio da Ajuda, os laboratórios (já praticamente sem pessoal) mudaram algures para a calçada da Ajuda e o valioso espólio e complexo equipamento da Arqueologia Subaquática, finalmente transitou, há poucas semanas, para o MARL (Mercado Abastecedor da Região de Lisboa ?) lá para os lados de Camarate.
Penso que é hoje claro para toda a gente que o Director do Museu não se opõe, bem pelo contrário, à ideia da mudança para outro espaço com melhores condições (pese embora a natural frustração de quem há uma década investe em sucessivos projectos de requalificação do espaço actual), julgo que nem lhe repugnará até a solução da Cordoaria Nacional, uma vez comprovado que a sua localização não oferece maiores perigos do que os comuns à zona Ribeirinha em geral e elaborados os indispensáveis estudos e projectos… Tal solução, poderia até relocalizar no próprio Museu as estruturas que neste foram fundadas há três décadas e que hoje se encontram dispersas e moribundas. O que certamente o assusta e o obriga a tomar, em consciência, a presente posição, são as decisões precipitadas, tomadas sob o “síndroma” da carambola, ao arrepio de qualquer arremedo de planeamento. E se no caso das estruturas do exIPA, as consequências estão já à vista, imagine-se o que aconteceria à Arqueologia Portuguesa com o desmantelamento precipitado de uma instituição centenária como o MNA, guardiã de vastas e complexas reservas arqueológicas, cuja exemplar reorganização e funcionamento, são talvez uma das heranças mais preciosas do trabalho da equipa de arqueólogos que, pela mão de Vasco Pulido Valente (imagine-se!) entrou há três décadas naquele Museu.

António Carlos Silva

Porque quer a Ministra da Cultura demitir o Director do Museu Nacional de Arqueologia?

Um importante texto da Dra. Jacinta Bugalhão, que dá o enquadramento da história recente de toda a situação vivida hoje pelo MNA. Para ler e reflectir.

Há muitos anos atrás, uma avisada dirigente do Ministério da Cultura soube que o “quase” quarteirão das antigas Oficinas Gerais do Exército (mesmo em frente à estação de comboios de Belém) iria ser alienado. Fazendo uso de um excelente sentido de oportunidade, conseguiu que a aquisição fosse concretizada, impedindo que aquele espaço de excelente localização entrasse no usual jogo especulativo urbanístico e reservando-o para uma desejada e necessária expansão do Museu dos Coches, situado logo ali ao lado. Mas as coisas são como são, e como por magia surge a intenção de construção de um novo museu naquele espaço, libertando o antigo picadeiro real para outra utilização: aí se instalaria a Escola Portuguesa de Arte Equestre Portuguesa (actualmente sediada no Palácio Nacional de Queluz), que utilizando o antigo picadeiro como área de exposição e demonstração para os potenciais clientes ganharia uma “loja” no melhor espaço turístico da capital, talvez do país. Foram várias, ao mais alto nível e até um momento recente, as tentativas governamentais para concretizar esta agressiva operação comercial, que se traduziria na destruição de um dos melhores, senão o melhor, núcleo museológico histórico português, no qual um extraordinário acervo móvel se apresenta ao público fantasticamente integrado num belíssimo e adequado exemplar de património construído (talvez por isto o mais visitado museu do país…). Felizmente e após feroz e unânime oposição de museólogos e técnicos de património e como o apoio (discreto mas eficaz) do Presidente da República (pelos méritos dos argumentos e talvez por não gostar da vizinhança em perspectiva), lá foi reposta alguma racionalidade no processo e o Museu nos Coches não sairá do seu edifício, sendo “ampliado” para o novo módulo em fase de construção.
(...)
A Ministra da Cultura quer demitir o Director do MNA porque o Estado e o Governo não perceberam ainda que o nosso maior recurso nacional é a nossa “paisagem cultural” e que por isso, o Património Cultural é um importante factor de desenvolvimento económico, como aliás crescentemente vem sendo afirmado por economistas idóneos e de quadrantes variados. Porque, tragicamente, não há política museológica neste país e isso é uma vergonha. Porque os nossos governantes por vezes parecem crianças a brincar no recreio, mas infelizmente brincam como o interesse público. Porque o Ministério da Cultura não tem uma política séria de gestão de espaços e avaliação de necessidades dos seus serviços. Porque, há interesses económicos fortes e bem relacionados que interferem com a esfera governamental com a maior das facilidades. Porque parece que caiu uma maldição sobre a Arqueologia Nacional; é muita coincidência, para não ser deliberado: existem interesses fortes dentro do Estado e fora do Estado, mas agindo por intermédio dele que querem anular os avanços conseguidos nos últimos 15 anos na salvaguarda do Património Arqueológico.
A Ministra da Cultura quer demitir o Director do MNA, porque é uma má ministra. A Ministra da Cultura quer demitir o Director do MNA porque ele é um excelente director de museu.

Veja o texto completo em:
http://ml.ci.uc.pt/mhonarchive/archport/msg08600.html

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Última hora: PSD quer que ministra esclareça transferência do MNA para a Cordoaria

O Grupo Parlamentar do PSD entregou hoje um requerimento dirigido à ministra da Cultura com as questões que pretende ver esclarecidas sobre a transferência do Museu Nacional de Arqueologia dos Jerónimos para a Cordoaria Nacional.
O director do MNA quer uma avaliação da segurança sísmica do edifício da Cordoaria.
A ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, deverá ir ao parlamento no dia 14 de Abril a pedido da Comissão de Ética, Sociedade e Cultura, para ser ouvida pelos deputados sobre aquela matéria.
O Ministério da Cultura, através do Instituto dos Museus e da Conservação (IMC), que tutela o museu, já anunciou as diversas fases do projecto de transferência, com a previsão de iniciar obras na Cordoaria no início de 2011.
Na quarta-feira, os deputados da Comissão de Ética, Sociedade e Cultura estiveram no Museu Nacional dos Coches, no Museu Nacional de Arqueologia (MNA) e no Museu de Arte Popular para tomar conhecimento da situação dos vários espaços museológicos.
Aos deputados, o diretor do MNA, Luís Raposo, reiterou que a transferência do espólio de arqueologia só deverá ser feita quando estiverem garantidas as condições geotécnicas e a adaptação do edifício da Cordoaria.
Num requerimento hoje dirigido a Gabriela Canavilhas, o Grupo Parlamentar do PSD enumera uma série de interrogações, nomeadamente se o Ministério da Cultura vai”solicitar estudos geotécnicos ao LNEC, tal como foi prometido e anunciado pela senhora ministra” da cultura.
Também pretende saber se a tutela, “após terminados os estudos geotécnicos, mandar executar um projecto de arquitetura, respeitador do edifício da Cordoaria Nacional e respeitador do programa museológico do Museu de Arqueologia”.
Os deputados do PSD também pretendem saber quais vão ser os custos da instalação do MNA na Cordoaria e posteriores custos de manutenção.
Na quarta-feira, no final da visita dos deputados ao MNA, o diretor do IMC, João Brigola, que também se encontrava presente, em declarações aos jornalistas, estimou em 15 milhões de euros os custos de todo o projecto, incluindo os estudos, o projecto arquitetónico, adaptação e instalação.
08.04.2010 - 19:08 Por Lusa (Publico online)

Mais um risco na Cordoaria: iões de cloro livres

Entre estudos sísmicos, geotécnicos e outros quejandos, há um sério problema que ainda não vi por ninguém referido e que me parece, mais do que os outros, ser, por si só, impeditivo da transferência do Museu Nacional de Arqueologia: chamam-se iões de cloro livres e existem no pavimento e paredes da cordoaria nacional. Não é por acaso que a cordoaria nacional está implantada onde está. Os nossos antepassados pretendiam fazer cordas duráveis e faziam-nas ! Usavam a urina e o cloreto de sódio. A higrospicidade do cloreto de sódio não deixava que as cordas ressequissem. Mas isto era quando se faziam cordas na Cordoaria Nacional. Agora pretende-se instalar lá um museu, mas os iões livres de cloro continuam a existir, quer trazidos pelos ventos, quer por capilaridade a partir do solo e libertos pelo pavimento e paredes. Principal inimigo dos metais, designadamente os ferrosos ou os bronzes são os iões de cloro responsáveis pela cadeia cloreto cúprico, cloreto cuproso, óxido cúprico, tudo potenciado pela humidade atmosférica, essencial a este tipo de corrosão; é simplesmente devastador para os metais, mesmo os nobres, quando em ligas pobres. É evidente que os nossos governantes não podem saber todas estas coisas, para isso têm os assessores.
Independentemente de todos os outros estudos, bastaria esta real ameaça, para que ninguém de bom senso pretendesse instalar na Cordoaria Nacional qualquer tipo de museu (a não ser de cordas !) e muito menos o Museu Nacional de Arqueologia.
Em verdade custa-me muito acreditar que um arqueólogo possa defender esta transferência.
Os meus respeitos à comunidade científica
F.E.Rodrigues Ferreira

Luis Raposo arrisca processo disciplinar por defender o MNA e a deontologia profissional... e os governantes, o que arriscam ? E os subalternos "venerandos e obrigados", o que arriscam ?


Diário de Notícias, 8 de Abril de 2010

MNA na Cordoaria pode custar 15 milhões de euros... Ou 25 a 30 milhões ? Ou mais ?

Público, 8 de Abril de 2010

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Visita ao MNA da Comissão de ética, Sociedade e Cultura da Assembleia da República

Teve lugar hoje, tal como previsto, a visita dos deputados da Comissão de ética, Sociedade e Cultura ao MNA. Estiveram presentes 14 deputados, de todos os Partidos Políticos representados na Assembleia da República, assim como alguns arqueólogos e historiadores que quiseram marcar presença, manifestando os seus pontos de vista sobre o momento que o MNA atravessa. Salientamos em especial, os Professores Catedráticos de Arqueologia na Universidade de Lisboa e na Universidade Aberta, respectivamente Prof. Doutor Victor S. Gonçalves e Prof. Doutor João Luís Cardoso, e o Director do Museu Ferroviário Nacional, Doutor Jorge Custódio, um dos mais eminentes especialistas portugueses em património industrial e profundo conhecedor da Fábrica da Cordoaria Nacional. Os deputados foram recebidos pelo Director do MNA, que expos detalhadamente a situação actual. Pelo GAMNA estiveram presentes a Presidente da Direcção, Doutora Jeannette Nolen, a Secretária-geral da Direcção, Arquitecta Helena Delgado, e o Presidente da Mesa da Assembleia-geral Doutor Pedro Roseta, que usou também da palavra da Direcção, em nome do GAMNA.A sessão decorreu muito bem, tendo os deputados colocado diversas questões e obtido os respectivos esclarecimentos. Seguiu-se visita à Torre Oca.
Ficamos agora a aguardar com expectativa os desenvolvimentos desta visita, seja ao nível da inquirição parlamentar à senhora Ministra da Cultura, prevista para dia 14 de Abril, seja ao nível de eventuais iniciativas legislativas que os Partidos entendam tomar.

Intervenção do Director do MNA

Intervenção do Presidente da AG do GAMNA

Quem são as "muitas pessoas da área da arqueologia" que disseram ao Director do IMC estarem de acordo com a transferência do MNA para a Cordoaria ? E em que condições ?

Director do Museu Nacional de Arqueologia reitera condições para sair dos Jerónimos
por Agência Lusa, Publicado em 07 de Abril de 2010

O diretor do Museu Nacional de Arqueologia voltou hoje a defender, perante deputados do Parlamento, a necessidade de garantir as condições geotécnicas e de adaptação da Cordoaria para aceitar a transferência do acervo dos Jerónimos.
Um grupo de 14 deputados da Comissão Parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura visitou hoje o Museu Nacional de Arqueologia (MNA), o Museu Nacional dos Coches e o Museu de Arte Antiga, todos em Lisboa, na sequência de um pedido urgente do Grupo Parlamentar do PSD.
Luís Raposo, diretor do MNA, acolheu os deputados da comissão, fez uma visita pelas instalações, incluindo a polémica Torre Oca que o vizinho Museu da Marinha espera receber a 08 de maio, e reiterou a defesa de "um planeamento estratégico" para fazer a passagem para o edifício da Cordoaria.
Em declarações à agência Lusa no final da visita, Luís Raposo salientou que está a lutar por estas garantias, mas considera que "há margens possíveis de consenso".
"Penso que ainda é possível haver um encontro de vontade política e soluções técnicas. Espero encontrar uma saída consensual [com a tutela]. As portas não estão fechadas", disse.
Sobre o facto da direção do Instituto dos Museus e da Conservação (IMC) também ter reiterado que pretende cumprir o acordo que reenquadra o museu, Luís Raposo recordou que "também o Conselho de Ministros queria fechar o Museu de Arte Popular, mas voltou atrás".
O diretor do MNA contou aos deputados um historial com décadas sobre projetos políticos para o museu - aberto ao público em 1906, e que já esteve quase para ter um espaço construído de raiz, na zona da Cidade Universitária - e respondeu a questões, sobretudo colocadas pelos deputados Maria Conceição Pereira (PSD), João Serrano (PS) e João Oliveira (PCP).
No final do encontro, questionada pela Lusa, Maria Conceição Pereira, que propôs a visita, disse existir "alguma preocupação e interrogações" por parte dos deputados sobre todo o processo de transferência.
"Com certeza que na próxima semana, quando a senhora ministra da Cultura estiver na Assembleia da República, vamos tentar perceber todas estas questões", apontou.
Entre outras questões que queriam ver respondidas, os deputados da comissão apontaram "o porquê de não ter sido consultado o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e qual a urgência da entrega da Torre Oca à Marinha".
"A questão dos custos da transferência do Museu de Arqueologia e da sua manutenção também têm de ser aprofundadas e estudadas", comentou a deputada social-democrata.
Em relação ao Museu Nacional dos Coches, visitado anteriormente pelos deputados da comissão, a quem a diretora, Silvana Bessone, manifestou preocupação com os riscos da transferência das peças para o novo complexo em construção, Maria Conceição Pereira considerou também que não estão esclarecidas questões de segurança e do impacto do novo espaço na afluência de visitantes.
A nova direção do IMC também acompanhou a visita pelos museus, a par de arqueólogos e alguns membros do Grupo de Amigos do MNA.
Questionado pela Lusa sobre se mantém a data para a entrega da Torre Oca, João Brigola, diretor do IMC, sublinhou que aquele organismo "não tem uma visão cega da situação, mas há muitas pessoas da área da arqueologia que apoiam a transferência, entre elas o arqueólogo Cláudio Torres, que já o disse publicamente".
"Gostaríamos que o diretor do Museu Nacional de Arqueologia, por quem tenho grande consideração, acompanhasse todo este processo. A ordem de serviço está dada e tem de ser cumprida", vincou.
Na sua opinião, o IMC está a conduzir o processo com "muita firmeza e serenidade": "Claro que o museu não vai sair daqui encaixotado, e nunca antes de 2012".
Este ano decorre uma fase de projetos e estudos, em 2011 o IMC conta iniciar as obras e espera que esteja concluído em 2012.
Quanto ao espaço que a Marinha pretende recuperar a 08 de maio, João Brigola comentou: "Este museu esteve quase 90 anos sem a Torre Oca", que tem sido usada para iniciativas culturais como conferências e colóquios.
"O museu está muito mal instalado há um século. Queremos resgatar a coleção e dar-lhe espaço para respirar" na Cordoaria, sustentou.

Comentário:
Lamentavelmente, o Director do IMC tem vindo a adoptar em todo este processo o lugar de “voz do dono”. E até parece que o faz com prazer, mostrando boa folha de serviços aos responsáveis do Ministério da Cultura, que assim vão diferindo enquanto podem o inexorável desgaste em que já se encontram.
Afirma aqui o Director do IMC que “há muitas pessoas da área da arqueologia que apoiam a transferência” e dá um único exemplo, o do “arqueólogo Cláudio Torres, que já o disse publicamente”.
Pois bem: se existem, está na hora dessas “muitas pessoas” se apresentarem, sem ser através da intermediação do Director do IMC. Digam se sim, se "apoiam a transferência“ e em que condições. Sim, porque o Director do MNA e nós mesmo também podemos dizer que apoiamos essa transferência… em determinadas condições. Até o arqueólogo Cláudio Torres, que desde 2007 tem vindo a subscrever as posições do IGESPAR, desde que foi nomeado vogal do seu Conselho Consultivo, concorda em que se façam na Cordoaria os estudos e se tomem as medidas geotécnicas necessárias. Ou não ?
Existe algum arqueólogo que ache que o MNA pode ir para a Cordoaria sem as devidas condições? Existe algum arqueólogo que ache que faz sentido a entrega imediata da Torre Oca à Marinha?
Se há, chegue-se à frente ou peça ao Director do IMC que o denuncie.

Entrevista do Director do Museu Nacional de Arqueologia à Edição das Dez da TVI24 em 6 de Abril de 2010



Carregue na imagem para ver a  entrevista
do Director do Museu Nacional de Arqueologia
à Edição das Dez  da TVI24 no dia 6 de Abril de 2010.


A propósito de declarações do Director do IMC à Rádio Renascença

Museu de Arqueologia “não está dignamente instalado”
Rádio Renascença 06-04-2010 21:20

O director do Instituto dos Museus e da Conservação responde às críticas do director do Museu Nacional de Arqueologia.
João Brigola considera que o Museu de Arqueologia está a ser tratado com respeito, mas precisa de mudar de instalações porque tem as “reservas atafulhadas” e não tem as dimensões de um museu nacional.
“Quem fizer uma visita ao Museu Nacional de Arqueologia verificará que, afinal de contas, não é um museu nacional, não tem dimensão para ser um museu nacional, não está dignamente instalado, uma parte substancial das suas colecções não está à vista, as reservas estão atafulhadas de objectos, não tem desafogo, não tem respiração, é um museu que tem sido maltratado e o que a tutela quer fazer é o resgate”, afirma João Brigola.
É desta forma que o responsável mostra o empenho do Ministério da Cultura no museu liderado por Luís Raposo que ontem, à Renascença, dizia que a tutela estava a tratar o Museu de Arqueologia como um “estorvo”.
Em causa está a mudança do Museu Nacional de Arqueologia para o edifício da Cordoaria. Em troca, João Brigola confirma que o Ministério da Cultura abre mão de parte dos Jerónimos e entrega-o ao Ministério da Defesa.
A ministra da Cultura , Gabriela Canavilhas, quer ver nascer os Jerónimos, em conjunto com a Marinha, um Museu da Viagem e da Língua.
Na Cordoaria, se o Museu de Arqueologia mudar para lá, poderá em 2012 receber uma exposição de arqueologia egípcia.

Comentário: No contexto actual, as declarações do Director do IMC não podem deixar de ser consideradas como imateriais ou mesmo cínicas. Que o MNA não possui nas suas instalações actuais condições suficientes para expor devidamente as suas colecções, todos sabemos e tem sido repetido ao longo de anos e décadas. Por isso se projectam desde há meio século instalações novas, de raiz ou a ampliação nos Jerónimos. O problema está em saber se a Fábrica da Cordoaria Nacional reúne as condições para receber o MNA, não em matéria de metros quadrados, mas em matéria de segurança e adequação patrimonial, que são questões prévias e bem mais importantes. O problema é ainda o tratamento desrespeitoso dado ao MNA neste processo de mudança, por se querer que comece já por ser despejado nos Jerónimos quando nada foi ainda feito na Fábrica da Cordoaria Nacional, nem se tem a garantia da viabilidade e dos custos inerentes a todo o processo, que inclui os trabalhos de engenharia geotécnica e só depois a obra arquitectónica.
E já agora outra coisa, senhor Director do IMC: se queria ser respeitoso para o MNA escusava de dizer que ele não é um “Museu Nacional”, porque lhe fica mal tal desrespeito e nem sequer existe quem lhe reconheça essa capacidade avaliadora. Limitado embora pelos espaços, o MNA sempre foi e continua a ser um MUSEU NACIONAL, talvez aquele que possui melhores indicadores de performance no nosso País. Afinal, quem trata e quem não trata o MNA com respeito ?

Museu do Açúcar, no Funchal: Um exemplo dramático a ter em conta...

Nas recentes inundações ocorridas na madeira, o Museu do Açúcar no Funchal, localizado numa zona de cheia de ribeira foi seriamente danificado e parte do seu acervo destruído... Um exemplo a ter em conta, como se documenta pelas notícias abaixo.


Madeira: Museu do Açúcar inundado

Um dos mais emblemáticos museus do Funchal está alagado, mas as peças mais importantes estão a salvo em Lisboa
TVI24 Redacção /VG
22-02-2010 17: 07
O Museu do Açúcar, um dos mais importantes e emblemáticos do Funchal, ficou inundado durante a tempestade, mas as peças mais importantes encontram-se a salvo numa exposição que está patente no Palácio da Ajuda, em Lisboa, informa a Lusa.
«O museu está com água a uma altura de três metros», disse Francisco Clode de Sousa, responsável da Direcção Regional dos Assuntos Culturais da Madeira (DRACM).
«Felizmente, as peças mais importantes estão numa exposição em Lisboa sobre obras-primas dos museus da Madeira», afirmou, dando como exemplo um contador em casca de tartaruga e marfim, uma taça chinesa, formas de açúcar, entre outras peças valiosas.
Francisco Clode de Sousa informou que o Museu do Açúcar tem agora no seu interior sobretudo peças de arqueologia. «Nós não temos acesso ao interior do museu. Hoje conseguimos resgatar uma escultura flamenga em madeira do século XVI que estava a boiar na água e chegou até à porta», contou o museólogo.
De ontem para hoje, o nível da água desceu um metro, e «seria bom que continuasse a baixar lentamente para as peças assentarem no fundo», observou.
Os museus vão manter-se fechados até quarta-feira. «A zona da baixa do Funchal parece um cenário de guerra», avaliou o responsável, comentando que «ninguém esperava o que aconteceu».

Jornal da Madeira

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Senhora Ministra, Senhor Secretário de Estado, Senhor Director do Instituto dos Museus e da Conservação...

Vários amigos, a título pessoal, e várias associações de natureza diversa têm-no dado conhecimento de cartas e e-mails que endereçaram directamente à tutela do MNA, expressando as suas opiniões sobre o momento actual. Outros perguntam-nos se vale a pena fazê-lo ou se tal poderá ser considerado deslocado em face da possibilidade de deixaram comentários na petição da Internet, que recolhe a Declaração da AG da Comissão Nacional Portuguesa do ICOM.
Agradecemos aos primeiros a iniciativa que tomaram e dizemos aos segundos que o contacto directo dos cidadãos com os orgãos do Poder Político e os seus titulares, incluindo os Deputados, constitui um dos mais fiáveis indicadores de desenvolvimento democrático em cada País.
Por isso, se assim o entender, diga o que pensa à senhora Ministra da Cultura, ao senhor Secretário de Estado da Cultura, ao senhor Director do Instituto dos Museus e da Conservação... e aos senhores Deputados, na pessoa talvez do senhor Presidente da Comissão de Ética, Sociedade e Cultura da Assembleia da República.
Todos não seremos demais.

A defesa do Museu Nacional de Arqueologia é também uma questão de cidadania

A mudança do Museu Nacional de Arqueologia tendo como objectivo primário tornar devolutas as suas centenárias instalações, mesmo tendo como pano de fundo uma genuína intenção de melhorar as condições actualmente existentes, levantou dúvidas quanto ao futuro do museu.
Pois a mudança de um grande museu português como o MNA, casa mãe da arqueologia portuguesa, só pode ser encarada como um importante desígnio cultural nacional.
Recorda-se que há já cerca de dezasseis anos que a também instalação de uma exposição efémera no MNA levou à desmontagem da sua exposição permanente e, desde então, deixou de haver uma apresentação museográfica do património arqueológico português num único museu nacional.
Esta mudança deveria assim encontrar-se fundamentada em estudos, ser objecto de uma planificação, que integrasse os respectivos programas e projecto museológico, dotados de orçamento e de recursos financeiros.
Apoiar o esforço para esclarecer as questões agora levantadas e conseguir garantias quanto à continuidade futura do MNA deverá ser encarado como um acto de cidadania.
João Marques
Presidente da Secção de História
da Associação dos Arqueólogos Portugueses

sábado, 3 de abril de 2010

Última hora: COMISSÃO PARLAMENTAR DE ÉTICA, SOCIEDADE E CULTURA VISITA O MNA

Acabamos de ser informados que, por iniciativa do PSD, com carácter de urgência, foi obtido o consenso dos grupos parlamentares para que os deputados da Comissão de Ética, Sociedade e Cultura da Assembleia da República se desloquem ao Museu Nacional de Arqueologia já na próxima semana, visitando depois também o local do novo Museu dos Coches e o Museu de Arte Popular.
O GAMNA estará presente na recepção a efectuar no MNA e saúda vivamente esta iniciativa parlamentar. A questão dos Museus de Belém em geral e especialmente o grave atentado que se pretende efectuar ao MNA justificam amplamente a intervenção da Assembleia da República. Planear, ouvir, suscitar o debate público, estudar tecnicamente os dossiês, considerar alternativas e só depois decidir deveria ser a estratégia de qualquer Executivo, em qualquer país civilizado. E quando assim não é, cabe em primeira linha à sede de legitimação do Poder do Povo, que é o Parlamento, impor os mais básicos princípios da vida democrática.

Sobre o Museu Nacional de Arqueologia, por Maria José de Almeida

Um texto sentido, que vale a pena ler…
Não me lembro quando terei entrado no Museu Nacional de Arqueologia (MNA) pela primeira vez. Cresci em Lisboa e a minha mãe sempre teve nos museus da cidade poderosos aliados contra o tédio de quatro crianças – mais primos e amigos de visita – nos longos verões escolares dos anos 70. Devo ter ido ao MNA pela primeira vez em criança e não me lembro.
Mas lembro-me bem quando entrei pela primeira vez na reserva do MNA….

V. texto completo em: http://www.mouseion.me/?p=764

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Mais de 1000 assinaturas em 72 horas

As adesões ao abaixo-assinado adoptado pela Assembleia-Geral do ICOM,  continuam a superar todas as expectativas. Mais de 1000 assinaturas em 72 h dão conta de como o assunto tem mobilizado a sociedade civil. Mensagem de apoio de todos os sectores da sociedade continuam a surgir.

E ainda agora a luta mal começou…

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Mais uma vez, os museus de Lisboa

Tomo conhecimento através da comunicação social de uma petição em defesa do museu nacional de arqueologia. Assino e recebo mais informação no blogue dos amigos do museu de arqueologia: http://gamna.blogspot.com/

Afinal, como diz a canção, havia outra razão. O ministério da cultura precisa de arranjar espaço para deslocar as instalações e os armazéns que tem no terreno onde começou a construção do novo museu dos coches. E a sua ideia é fazê-lo para a Cordoaria, juntamente com o museu de arqueologia.

Compreende-se a indignação do diretor do museu e colaboradores.

A propósito, uma reflexão: o diretor do museu foi nomeado após concurso público; a senhora ministra foi nomeada sem concurso pelo senhor primeiro ministro que declarou publicamente que na anterior legislatura tinha dedicado pouca atenção à cultura, do que se arrependia. Traduzindo em linguagem coloquial: o senhor primeiro ministro não tem preparação cultural para traçar nem validar uma política cultural. Naturalmente que tem legitimidade para nomear a senhora ministra da cultura. Assim como eu tenho legitimidade para comparar o direito divino de Bossuet a este direito divino que confere a um senhor primeiro ministro confessadamente a leste da cultura e a uma senhora ministra nomeada sem concurso nem consulta pública o poder de comprometer por muitos anos os museus de Lisboa.

Do ponto de vista técnico de construção, a adaptação do edifício da Cordoaria será sempre mais complicada do que a construção de raiz. Embora se possa fazer, incluindo o reforço dos terrenos contra os riscos sísmicos e de liquefação de solos e o reforço da edificação (aliás, razões por que seria mais fácil construir de raiz).

Fica entretanto um cidadão como eu na dúvida por falta de informação:

- se o problema é de espaço, não seria mais lógico ser o museu da Marinha a expandir-se (não digo abandonar todas as atuais instalações) para a Cordoaria ou para outro local?

- não seria melhor resolver de forma integrada, através de um plano de expansão faseada, os problemas de todos os museus de Lisboa, inclundo o de arte antiga que está espartilhado e tem grandes dificuldades de estacionamento?

- não podem ser consideradas hipóteses, de novas localizações das expansões de museus, os terrenos a norte do Palácio de Belém, que também são do Estado e, eventualmente, algumas instalações militares da Calçada da Ajuda?

- estão os decisores da coisa pública conscientes das extremas limitações das condições de acessibilidade e de estacionamento que as expansões dos museus irão encontrar? (já neste momento se verificam graves dificuldades de transporte, de circulação e estacionamento na zona dos Jerónimos; e uma quase impossibilidade no museu de arte antiga) ; estes problemas só se resolvem com silos-auto e com novas linhas de metro…

Gostaria ainda de refletir sobre os riscos de maremoto. De acordo com os registos da época, a praia dos Jerónimos foi poupada ao maremoto de 1755. Este é ainda hoje um mistério para os nossos especialistas e poderá estar relacionado com as condições de maré e de regolfos no mar da palha. No entanto, analisando a carta da foz do Tejo, verifica-se que uma onda de sudoeste devida ao terramoto na falha sísmica de Gorringe entra facilmente na barra, reflete-se e é defletida na baia de Oeiras pela praia de Algés e de Pedrouços sobre a margem sul em Almada e dai reflete-se sobre o Terreiro do Paço. A praia dos Jerónimos fica protegida.

Tudo isto, espera-se, deverá estar a ser estudado pela Administração da Região Hidrográfica do Tejo e pelas entidades da Proteção Civil, no âmbito do estudo das áreas de inundação e de risco, tal como definido na lei da água, DL 58/2005 (ver quanto ao programa de atividades: http://www.inag.pt/inag2004/port/a_intervencao/planeamento/pbh/pbh03_tejo/2/volume_1_texto/Memoria_1_F2.pdf

e sobre a definição de zonas inundáveis, o artigo 40 da lei da água: http://www.inag.pt/inag2004/port/divulga/legisla/pdf_nac/Lei%2058_2005.pdf%20 ) .

Seria muito interessante estudar-se o estuário do Tejo como se estudou o Tamisa, equipado com um sistema de proteção contra cheias. No caso do Tejo, o fecho da Golada poderia ser um fator importante na proteção do estuário contra maremotos.

Aguardemos a evolução.

Prof. Doutor Fernando Silva
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/04/mais-uma-vez-os-museus-de-lisboa.html