As referências feitas ao MNA na recente entrevista da senhora ministra da Cultura continuam a suscitar reacções. Das que nos chegaram, reproduzimos de seguida três:
De João Ribaldo, membro do GAMNA, e dirigido ao Director do Público:
A ministra da Cultura e o Museu Nacional de Arqueologia: descaramento ou autismo ?
Sou um dos mais de 800 membros do Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arqueologia e nesta qualidade tenho acompanhado atentamente o problema da transferência do Museu dos Jerónimos para a Cordoaria Nacional. Causa-me profunda revolta a forma como a ministra da Cultura se referiu ao assunto na entrevista que deu o vosso jornal. Diz que o caso não é polémico, que só mobiliza "o director e duas ou três pessoas mais". Pus-me a pensar quem serão estas pessoas. Talvez as anteriores responsáveis pelos museus nacionais, Raquel Henriques da Silva e Simonetta Luz Afonso; ou o anterior ministro Pedro Roseta; ou a maior especialista portuguesa em museologia arqueológica, Adília Alarcão. Mas só aqui já vão mais do que dois ou três. Pensei depois na longa lista de personalidades que nos últimos dois meses marcaram presença no Museu, declarando a maior parte a sua oposição aos planos do ministério: Carlos Fiolhais, Maria Helena da Rocha Pereira, Paula Teixeira da Cruz e tantos outros. Lembrei-me também das acções de solidariedade que envolveram pessoas como Rão Kyao, Ricardo Araújo Pereira, Tiago Flores, Vítor Norte, grupos de teatro, etc. Recordei ainda uma petição que foi entregue em mão à senhora ministra na Assembleia da República (AR) e que tem mais de 1500 assinaturas. E, por falar em AR, veio-me à memória a recente aprovação por unanimidade de todos os partidos da oposição de uma Resolução em que se critica asperamente o Governo e se recomenda que abandone ou pelo menos suspenda este projecto. A que "duas ou três pessoas" se referia a senhora ministra ? Quando se chega ao ponto de nem sequer ter em conta a AR, tratando-a como se fosse uma agremiação recreativa, está tudo dito e não pode augurar-se muito futuro à governação. Só resta esclarecer se estamos perante um caso de mero descaramento pessoal ou de assumido autismo político.
De Paulo Ferrero, do Fórum Cidadania LX, dando conhecimento de e-mail dirigido à jornalista do PÙBLICO Vanessa Rato:
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O mais grave é, contudo, o achincalhamento público que a sra. ministra faz dos milhares de pessoas que estão contra o novo museu dos coches, bem como a passagem do MNA para a Cordoaria, para depois dizer que no caso do MAP, aí sim houve um grande movimento, etc., etc.
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Num país como o nosso, com Monumentos Nacionais a cair aos bocados, equipamentos culturais, idem, etc., etc. gastarem-se milhões do erário público (porque as verbas do casino são contrapartidas devidas ao Estado e no momento em que saem do casino são dinheiros públicos!) em construir um novo museu para substituir um velho que é "apenas" o melhor museu que temos, só porque há um favor que se tem de fazer a um arquitecto e a um lobby, é obra e só num país de corrompidos!
Gostava de saber o que pensam desta entrevista, por ex., Pedro Roseta, Simonetta Luz-Afonso e Raquel Henriques da Silva personalidades insuspeitas que, em nome do Grupo de Amigos do MNA lideram a oposição à ida do MNA para a Cordoaria, e que também se pronunciaram publicamente e por diversas vezes contra o novo museu dos coches.
Não a quero maçar mais, mas parecem-me um insulto à inteligência, essas declarações da senhora ministra.
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Do blogue MUSING ON CULTURE, de Maria Vlachou:
Sobre a entrevista da Ministra
A entrevista da Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, ao jornal Público (ler aqui), no passado dia 25 de Junho, dá notícia de cortes muito significativos na área da cultura, que irão afectar todos os sectores, alguns de forma preocupante (como é o caso da Direcção-Geral das Artes).
Considero que há vários pontos que mereciam ser melhor explicados. Aliás, as reacções de vários agentes culturais, que obrigaram o Ministério a emitir um comunicado no mesmo dia da publicação da entrevista (ler notícia aqui), indicam que tem, aparentemente, havido pouco diálogo e partilha de informações. Todos se mostram solidários, mas não gostam de ser apanhados de surpresa e sentem que deveriam estar mais envolvidos na procura de soluções. Faz sentido.
Na minha opinião, a Ministra da Cultura tem mostrado ser uma pessoa que sabe o que quer, confiante, corajosa e concentrada. Procurou rapidamente informar-se sobre a situação dos vários sectores da área da cultura e tomou iniciativas que iriam dar início a processos que procuram dar respostas a questões pendentes há muito.
Por isso, fico sempre desiludida quando sinto que a Ministra foge às questões que lhe são colocadas e chega até a dar informações pouco precisas ao público em geral. Utiliza, digamos assim, ‘truques’ de político, mas que não funcionam com as pessoas que têm um conhecimento mais profundo do sector e, repito, mantém desinformado o cidadão comum.
Foram dois os pontos na entrevista do passado dia 25 que me causaram este sentimento, ambos relacionados com os museus. Primeiro, quando questionada sobre o processo polémico da transferência do Museu Nacional de Arqueologia.
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Não quero acreditar que a Ministra não tenha conhecimento da discordância de grande parte dos profissionais dos museus, da actividade intensa do Grupo de Amigos do Museu de Arqueologia, da discussão acesa no blogue desse mesmo grupo, da declaração da Assembleia-Geral da Comissão Nacional do ICOM (International Council of Museums) que deu origem a uma petição. Todas essas pessoas não se manifestam simplesmente contra a transferência do museu. Manifestam-se contra a transferência enquanto não houver um estudo que garanta que a Cordoaria tenha as condições necessárias para receber uma colecção de extrema importância nacional.
Mas diria mais. Mesmo que fossem apenas duas ou três as pessoas que se manifestam contra a transferência do museu, mesmo que fosse apenas uma, o Director, o facto de se tratar de profissionais da área deveria ser suficiente para a Ministra prestar mais atenção e não procurar minimizar ou ignorar a validade das suas opiniões e acções. Porque o Luís Raposo é um excelente profissional. Porque é uma pessoa de diálogo, que procura o consenso. E porque não está a fazer uma birra. Está a cumprir as suas funções, procurando garantir, em nome de todos nós, as condições para a salvaguarda da colecção do Museu Nacional de Arqueologia.
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http://musingonculture-pt.blogspot.com/
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