O FUTURO DO MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA EXIGE PONDERAÇÃO E RESPEITO


Com a publicação da saudação do Dr. Luís Raposo aos Amigos do MNA, do artigo do jornal Publico e da notícia da Antena 1, todos abaixo transcritos, chega ao fim a missão deste blogue independente,
feito por alguns amigos do MNA.

A luta travada nos últimos anos em defesa do MNA, impedindo a sua transferência para a Fábrica da Cordoaria Nacional, foi coroada de êxito.

Ao Dr. Luís Raposo desejamos as maiores venturas na continuação da sua carreira profissional.

Se um dia o MNA voltar a estar em perigo, regressaremos,

porque por agora apenas hibernamos.




domingo, 29 de julho de 2012

Luís Raposo: saio "aliviado" e "com o coração noutros projetos"

Antena 1, Jornal das 13h, 29 de Julho de 2012

Elísio Summavielle afasta Luís Raposo da direcção do Museu de Arqueologia

Por Luís Miguel Queirós in Público

António Carvalho, director do Departamento Cultural da Câmara de Cascais, assume o cargo até ser lançado novo concurso.


Luís Raposo, director do Museu Nacional de Arqueologia (MNA) há 16 anos, foi substituído no cargo por António Carvalho, até agora responsável do Departamento de Cultura da Câmara de Cascais, que desempenhará funções interinamente até que o novo director da instituição seja nomeado por concurso. A decisão foi tomada pelo director-geral do Património Cultural, Elísio Summavielle, que optou por não seguir a prática habitual de nomear o director em funções para assegurar este período de transição.

Raposo já fora afastado do cargo em Janeiro, por despacho do director do Instituto dos Museus e Conservação (IMC), João Brigola, que decidiu não o reconduzir, mas o arqueólogo recorreu da decisão, que viria a ser anulada pelo secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas. Com a fusão do IMC e do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) na Direcção-Geral do Património Cultural, cessaram os mandatos dos directores de museus dependentes do extinto IMC. Foi neste novo contexto que Summavielle decidiu afastar já Luís Raposo, substituindo-o por António Carvalho, um historiador com formação em Arqueologia e uma pós-graduação em Ciências Documentais.

Em carta endereçada aos Amigos do MNA, divulgada na Internet, Raposo informa: "Entendeu o director-geral, Elísio Summavielle, não me nomear para continuar a assegurar, em regime de substituição e por mais alguns meses, as funções que venho desempenhando há mais de década e meia" no MNA. E acrescenta: "Está no seu direito, terá as suas razões, que aos Amigos do MNA serão facilmente perceptíveis, mas que, pelo meu lado, não quero comentar, nesta circunstância".

Uma reserva que manteve quando contactado pelo PÚBLICO, afirmando apenas que espera que o seu sucessor faça "um bom mandato". Na sua carta de despedida, não nomeia António Carvalho, mas deseja-lhe sorte "nas circunstâncias difíceis que vai enfrentar, com uma direcção a prazo curto e baseada mais em confiança política ou pessoal do que em visão estratégica e competência profissional, avaliadas publicamente em concurso".

Conhecido pela frontalidade com que costuma defender publicamente as suas posições, Raposo foi tendo, enquanto director do MNA, situações de atrito com sucessivas tutelas. No último Governo de José Sócrates, criticou duramente a projectada transferência do MNA para a Cordoaria Nacional. Elísio Summavielle era então, recorde-se, secretário de Estado da Cultura da ministra socialista Gabriela Canavilhas.


O arqueólogo que chumbou Relvas
Arqueólogo, professor, director, até há alguns dias, do Museu Nacional de Arqueologia, Luís Raposo é ainda presidente eleito do ICOM (Conselho Internacional de Museus) em Portugal, e representante do sector dos museus no Conselho Nacional de Cultura. Mas há uma alínea do seu extenso curriculum vitae que nem o próprio recordava: a ele deve Miguel Relvas o chumbo que levou na disciplina de Arqueologia, a única que o actual ministro frequentou na sua episódica passagem pelo curso de História da Universidade Lusíada. "Já não me lembrava", diz Raposo, "mas, quando me falaram nisso, fui ver os meus papéis e, de facto, é verdade".

Aos Amigos do Museu Nacional de Arqueologia,


Cumpriu-se ontem o último dia do meu mandato na direcção do MNA.

Hoje entra em vigor a Portaria que define a orgânica da nova Direcção-Geral do Património Cultural e, por força da mesma, todos os lugares de direcção (de museus e de outros serviços dos extintos IMC e IGESPAR) cessam, devendo ser nomeados novos dirigentes, em regime de substituição, até que haja concursos para todos esses lugares.

A norma habitual, que penso dever ser também aqui seguida, é a de nomear nesse regime de substituição, a prazo, os dirigentes que cessam funções.

Mas no meu caso (não sei há mais algum idêntico) entendeu o Director-Geral, Elísio Summavielle, não me nomear para continuar a assegurar, em regime de substituição e por mais alguns meses, as funções que venho desempenhando há mais de década e meia no Museu Nacional de Arqueologia. Está no seu direito, terá as suas razões, que aos Amigos do MNA serão facilmente perceptíveis, mas que, pelo meu lado, não quero comentar, nesta circunstância.

Apenas desejo boa sorte ao meu substituto, que já me foi informado quem será e do qual sou amigo. Boa sorte nas circunstâncias difíceis que vai enfrentar, com uma direcção a prazo curto e baseada mais em confiança política ou pessoal do que em visão estratégica e competência profissional, avaliadas publicamente em concurso.

Por feliz coincidência, foi ontem também que começou a ser divulgado o Boletim nº 15 do GAMNA, com o programa de actividades para 2012/2013. É caso para dizer que cumpri até ao último dia o meu grato dever para com os Amigos do MNA, a quem agradeço toda a generosidade com que me trataram, e trataram o Museu, desde que em 1999 o GAMNA foi formalmente criado.

Saudações muito amigas do

Luís Raposo
25 de Julho de 2012

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Museu Nacional de Arqueologia. Percursos e desafios de uma casa centenária nas construções oitocentistas dos Jerónimos - um livro do Dr. Luís Raposo, uma memória para o futuro

Museu Nacional de Arqueologia. Percursos e desafios de uma casa centenária nas construções oitocentistas dos Jerónimos é o título de um livro da autoria do Dr. Luís Raposo, editado pelo GAMNA, onde se oferece uma narrativa cronológica de momentos significativos da história do Museu, remontando aos antecedentes da primeira metade do Século XIX, quando se procedeu à laicização do Mosteiro dos Jerónimos. São referidas as razões originais que levaram a instalar o MNA neste espaço monumental, bem como as sucessivas tentativas para o afastar do mesmo, desde o período do Estado Novo, há cerca de meio século, quando pela primeira vez a hipótese de transferência para a Cordoaria Nacional foi colocada e logo abandonada. É dado especial relevo aos episódios dos últimos anos sobre esta matéria, terminando a narrativa no livro em Abril de 2012, quando o actual director foi de novo reconduzido no cargo, depois de tentativa gorada para o seu afastamento.

Um livro muito bem ilustrado e documentado, que fica como memória para o futuro. Pedidos de envio podem ser feitos para o GAMNA: mnarq.gamna@imc-ip.pt



quarta-feira, 16 de maio de 2012

"Faz falta um museu dedicado às origens dos portugueses" - diz Elísio Summavielle

Reproduzimos notícia de hoje da LUSA, segundo o DN, acompanhada sugestivamente por imagem de Aljubarrota ou algo idêntico, em que Elísio Summaviella o anterior Secretário de Estado da Cultura do Governo Sócrates e futuro Direto-Geral do Património Cultural do Governo Passos Coelho, diz que para os Jerónimos até poderia ir o que já lá está desde o início, um museu das "origens dos portugueses". Terá mudado de opinião relativamente ao Museu dos Descobrimentos ? Ou o "museu das origens" que agora defende ser criado é apenas mais uma forma de pretender diminuir o MNA - o único museu com colecções capazes de contar as origens etno-arqueológicas portuguesas - assim lhe dêem condições para o efeito ?



O diretor-geral do Património Cultural (DGPC), Elísio Summavielle, defendeu hoje a criação, em Lisboa, de um museu "dedicado às origens dos portugueses, com menos espólio e mais comunicação".


Numa entrevista à agência Lusa a propósito do Dia Internacional dos Museus, que se celebra a 18 de maio, sexta-feira, o responsável considerou que "a falta de um museu que explique quem são os portugueses - as suas origens - é uma lacuna".

"Não falo num museu sobre a língua portuguesa, como existe no Brasil, mas um museu sobre a portugalidade", que pudesse ficar instalado no Mosteiro dos Jerónimos "ou noutro espaço em Lisboa, como a Praça do Comércio".

Sobre o projeto da anterior tutela para transferir o Museu Nacional de Arqueologia do Mosteiro dos Jerónimos para o edifício da Cordoaria, Elísio Summavielle indicou que "está suspenso, devido aos atuais constrangimentos financeiros".

No quadro desse projeto, foram feitos estudos sobre o edifício da Cordoaria Nacional, na avenida da Índia, "que indicaram uma solidez estrutural adequada, mas, neste momento, não se podem gastar 15 milhões de euros para adaptar o espaço ao museu e transferir o espólio de arqueologia".

O projeto envolvia também o Museu de Marinha, instalado nos Jerónimos, mas Elísio Summavielle considera que poderiam ser envolvidas outras tutelas, como a do Turismo.

Sobre outros projetos em curso, reiterou que o novo Museu Nacional dos Coches, um projeto assinado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, "deverá abrir no final de 2013, princípio de 2014".

Quanto ao Museu da Música - como já foi anunciado pelo secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas - deverá ir para Évora, para o Convento de São Bento de Castris, embora a falta de verbas venha a atrasar a sua concretização.

"O espólio do Museu da Música é muito importante e ali, num edifício histórico, terá muito espaço, até para realizar ateliês e 'workshops'", sublinhou o responsável, acrescentando que, quando houver verbas disponíveis, terá condições "para ser um museu exemplar".

Neste momento, o convento está a ser alvo de obras de recuperação, nomeadamente nos telhados.

No âmbito de um acordo com o Metropolitano de Lisboa, o Museu da Música manterá as instalações na estação do Alto dos Moinhos até ao final de 2013, indicou o responsável da DGPC.

Com a aprovação da nova orgânica da Secretaria de Estado da Cultura (SEC), o Instituto dos Museus e da Conservação (IMC), que tutela 28 museus e cinco palácios nacionais, passa a estar integrado - tal como o IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico), na nova estrutura da DGPC.

De acordo com a nova orgânica, as Direções Regionais de Cultura do Norte, Centro, Alentejo e Algarve vão passar a gerir museus e palácios da rede nacional que estão na sua área geográfica.

O Museu do Abade de Baçal, o Museu Alberto de Sampaio, o Paço dos Duques, o Museu dos Biscainhos, o Museu D. Diogo de Sousa, o Museu de Lamego, o Museu de Etnologia do Porto, o Museu da Terra de Miranda, o Museu de Aveiro, o Museu Francisco Tavares Proença Júnior, o Museu da Guarda, o Museu da Cerâmica, o Museu José Malhoa, o Museu Etnográfico e Etnológico Dr. Joaquim Manso e o Museu de Évora vão passar para a competência das respetivas Direções Regionais de Cultura.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O MNA passa a ser tutelado pela Direçao Geral do Património Cultural

Segundo informa o jornal Público o Conselho de Ministros aprovou a orgânica de uma Direção Geral do Património Cultural que vai passar a tutelar os Museus Nacionais, entre os quais o MNA. A notícia é acompanhada por imagem, aqui reproduzida, que vale mais do que mil palavras.


Ao que parece, o Governo dirigido por Passos Coelho entendeu fazer seu o projecto político do Governo dirigido por José Sócrates, que PSD e CDS tanto tinham criticado quando estavam na oposição. Compreende-se assim porque desconfiam os cidadãos dos jogos partidocráticos, ao ponto de deixarem de participar na vida política do País, já que, diz-se, "eles são todos os mesmos".
Seja como for, o importante é que foi tomada uma decisão e por isso fazemos votos para que este novo figurino administrativo seja benéfico para os museus e, no que diz respeito ao MNA, ultrapassada que está a ameaça de transferência para a Cordoaria Nacional, possa ele potenciar mais a actividade do "nosso" museu.



quinta-feira, 19 de abril de 2012

Elisio Summavielle reconhece que a transferência do MNA para a Cordoaria Nacional não se vai concretizar

Em declarações à imprensa durante as comemorações do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios (18 de Abril), o designado Diretor-Geral do Património Cultural, anterior Secretário de Estado da Cultura e grande mentor do projecto de transferência do MNA para a Cordoaria Nacional, acaba de reconhecer que afinal nada se vai fazer.

Disse nomeadamente:

Quanto ao projecto da mudança do Museu Nacional de Arqueologia para a Cordoaria Nacional, na Junqueira, em Lisboa, os estudos do projecto estão prontos, indicou, «mas neste momento não há disponibilidade financeira para a mudança».

Já nem vale a pena exigir os tais estudos que nunca ninguém viu e que tudo indica não existirem. Não é possível pedir o impossível ao senhor Summavielle. Basta-nos no entanto o principal, que é ser ele mesmo a ter de reconhecer que nada se vai fazer.

Continuaremos atentos.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Fez-se justiça !!!!

Costuma dizer-se que mais vale tarde do que nunca e é este o caso. Segundo informam os jornais e o próprio Dr. Luís Raposo confirmou, o senhor Secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, deferiu o recurso hierárquico apresentado pelo Ditrector do MNA, no qual era pedida a anulação dos despachos de não recondução e consequente recondução no cargo.
Trata-se de uma decisão que honra quem a praticou. Fez-se justiça.
Manter-nos-emos atentos, em defesa do MNA e do seu director.






domingo, 29 de janeiro de 2012

"Uma personalidade tão multifacetada como esta, com capacidade de liderança, faz falta a Portugal" - diz a AEAT a propósito do Dr. Luís Raposo

Não reagimos acto-contínuo à notícia que há cerca de uma semana informava da não recondução de Luís Raposo (LR) como Director do Museu Nacional de Arqueologia.
Mas não podíamos deixar de testemunhar neste caso pelos menos por tês razões: por amizade; pelo facto de LR ser nosso filiado embora esta razão seja menor e não deva ser interpretada como corporativa, um conceito que parece ser hoje mais representativo do que no Estado Novo); e principalmente pelo reconhecimento do estatuto de LR como profissional e cidadão notável.
É isso que fazemos agora, com a vantagem de termos lido o testemunho publicado por LR no dia 21 de Janeiro, num jornal diário de expansão nacional, num texto que ilumina algumas explicações do estado das coisas.
Julgamos merecer amplo consenso a noção que o exercício de cargos públicos não se deve eternizar. Também concordaremos de modo alargado que, num Estado de Direito, e numa sociedade dita democrática, os fundamentos das decisões devem ser objectivamente expressos (por dever e coragem), o que segundo LR não aconteceu.
Os 16 anos de LR como director do Museu Nacional de Arqueologia foram repletos de iniciativas e de sucessos, desde logo com o reforço do papel social do MNA e o aumento da quota de visitantes. Em condições normais (que não são as actuais) poderia considerar-se a não-recondução como o fechar de um ciclo e o atingimento maturado de um mandato.
Contudo, LR não tem sido apenas um bom funcionário e dirigente da administração pública, neste caso um director marcante do MNA, tão variadas são as suas qualificações, demonstradas ao longo dos últimos 40 anos, na investigação científica, na museologia, na divulgação, no associativismo, no ensino e no debate público sobre a coisa política. Diríamos que uma personalidade tão multifacetada com esta, com capacidade de liderança, faz falta a Portugal.
Ora o que aguardamos com vivo interesse são os próximos desenvolvimentos das decisões político-administrativas na área a Cultura. Porque acreditamos que, para decisores minimamente informados (algo muito fácil na sociedade aberta de hoje, em que o segredo só existe nas questões de defesa nacional e pouco mais…), fácil será concluir e de modo inteligente, que uma pessoa como LR faz falta na liderança da coisa pública. Alguém disse recentemente que tendo nós menos dinheiro teremos de ser mais inteligentes.
Se tal não acontecer teremos mais um sinal muito preocupante quanto ao nosso futuro como sociedade, talvez concluindo, tristemente, que o Estado português (não a comunidade nacional, o conjunto dos seus cidadãos eleitores) não parece merecer Luís Raposo. E, talvez concluir, com a legitimidade que nos é dada pelas declarações de vários responsáveis do actual Governo, ser este mais um convite para sair(mos) de Portugal.
Associação de Estudos do Alto Tejo

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A propósito da não renovação da direcção de Luís Raposo no Museu Nacional de Arqueologia - a opinião da Profa. Raquel Henriques da Silva

Levanta-se a hipótese macabra da Democracia estar a ser subvertida por poderes ocultos - considera o Prof. Francisco Sande Lemos

Felicito, pela sua frontalidade e clareza, o Luís Raposo.
O texto publicado no Público evidencia que as posições de LR em defesa do MNA contra a política de ex-governantes e dirigentes do governo José Sócrates desencadearam retaliações logo que essas personalidades tiveram oportunidade.
O que é mirabolante é o poder que conservam esses elementos, apesar de ter havido eleições e formado um novo Governo com os partidos que precisamente apoiaram na Assembleia da República o responsável pelo MNA na sua luta contra a política do governo de Sócrates.
Levanta-se assim a hipótese macabra da Democracia estar a ser subvertida por poderes ocultos.
Não se deve brincar com o fogo. Veja-se o exemplo da Hungria. Mais tarde ou mais cedo o povo cansa-se. E nesse caso a União Europeia terá de estender o poder da troika a todos os domínios da sociedade portuguesa.
Apelo pois a que se intervenha, sem medo, exigindo uma clarificação ao poder político. O temor e inacção são maus conselheiros e a crise que vivemos muito se deve à doentia apatia dos portugueses.
Saudações,
Francisco Sande Lemos

domingo, 22 de janeiro de 2012

Radio TSF: Não recondução sem fundamento é ilegal

 Da Radio TSF reproduzimos abaixo as breves declarações prestadas pelo Dr. Luís Raposo, nos noticiários do dia 22 de Janeiro de 2012.

Carregue na seta para ouvir as declarações

RTP2 anuncia que o Dr. Luís Raposo vai recorrer do despacho de não nomeação

Como se faz (e desfaz) um Director de Museu

Pela importância que reveste, reproduzimos o artigo de opinião do Dr. Luís Raposo, inserto no Jornal PUBLICO de 21 de Janeiro de 2012. Para ler, para meditar e para atuar em conformidade.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Margarida Ruas, delegada do European Museum Forum em Portugal, defende o "olhar novo" da direcção de Luís Raposo no MNA

A Arqueologia é uma ciência e arte escondidas ou aos “ pedaços”. É de todas a mais difícil de comunicar, sensibilizar e persuadir. Por razões profissionais, ao longo dos anos, visitei vários sítios e museus arqueológicos. Lembro-vos o êxito do MARQ em Alicante mas que nada acrescentou ao que já era realizado em Portugal .porque nenhum, era melhor ou fazia melhor que o Museu de Arqueologia, dirigido pelo Luís Raposo. Exemplar e inspirador. A arqueologia através da sua estratégia provocadora tocou pessoas de todas as idades, o respeito e a admiração do que fomos permitiu-nos construir o nosso EU e a criatividade ensinou-nos a fruir o belo que “os pedaços” contêm. Seleccionar o que de mais importante nos rodeia é puro exercício cultural, que estaremos aptos a alcançar quando sabemos quem somos: como gente, como cidadãos de um País e como seres do universo.
O Luís Raposo conseguiu formar e demonstrar, ensinar e divertir criando um lugar de discussão pura, troca de pensamentos, vivências e afectos consubstanciando a aprendizagem permanente ao longo da vida.
Não se muda uma equipa que funciona bem e quanto mais tempo está, mais sábia se torna porque a gestão do Luís Raposo reenviava-nos permanentemente para um novo olhar sobre as coisas, nunca nos reduziu a visitantes ou espectadores, éramos parte integrante daquela história e de todos os objectos, elementos vivos, agentes de mudança, respeitados inteiramente na nossa idiossincrasia
Keneth Hudson, fundador do European Museum Forum sustentava que após visitarmos um Museu, se nos sentíssemos mais altos, maiores, podíamos estar certos que o Museu era bom.
Sempre me senti maior quando visitava o Museu Nacional de Arqueologia ou assistia às inúmeras actividades que o Luís Raposo desenvolvia. Agradeço-lhe penhoradamente por tudo quanto fez pela inteligentzia Portuguesa e por ter convocado o melhor de nós. Sei que como Presidente do ICOM Portugal continuará a ser arauto do Bem e do Belo.
E todos estaremos atentos, não vá o Museu de Arqueologia ser transferido para dar lugar a um hotel ou a esplanadas de charme.
Cumprimentos amigos
Margarida Ruas Gil Costa

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A VERGONHA NA CARA É UM BEM CADA VEZ MAIS ESCASSO

Acho verdadeiramente inqualificável, em relação a quem, com tanta competência e paixão tem defendido causa da Cultura e da Arqueologia, em geral, e a do Museu, em particular, que tão brilhantemente dirigiu ao longo de 16 anos.
Se mais não fez, e fez muito, foi porque não lhe deram os meios pelos quais tanto reclamou. Talvez por isso tenha agora chegado a hora de afastar uma personalidade vertical e incómoda.
Adalberto Alves
(escritor)

Luís Raposo não foi reconduzido por uma decisão arbitrária e dificilmente explicável - Diz o arqueólogo Vírgilio Hipólito Correia, Director do Museu Monográfico de Conimbriga

Dr. Luís Raposo não foi reconduzido no cargo de Director do Museu Nacional de Arqueologia por uma decisão arbitrária e dificilmente explicável, situação que afectou outros colegas seus (nossos).
A publicação da lei orgânica da Direcção Geral do Património Cultural – que terá de acontecer até fim de Fevereiro - obrigará a abrir concurso para todos os lugares de director de museus e monumentos; nesta situação seria compreensível que nenhum director fosse reconduzido (continuando, todos, a assegurar o lugar em gestão corrente até – legalmente - finais de Maio) ou, pelo contrário, que fossem todos reconduzidos, sendo claro que isso era, de todas as formas, uma situação temporária. Os júris convocados pela nova DGPC decidiriam.
Mas não é isso que está a acontecer: há renovações e há interrupções; a minha interpretação é que se trata de “recados”.
A arbitrariedade é preocupante. Tal como são preocupantes certas coincidências com ataques inqualificáveis.
Não preciso de defender o Luís Raposo (que é notório que se defende perfeitamente sozinho). O que penso do seu mandato, escrevi-o num texto publicado pela Associação dos Arqueólogos Portugueses nos “Materiais para um Livro Branco da Arqueologia Portuguesa” (Arqueologia & História nº 60-61, está disponível em http://conimbriga.academia.edu/VirgilioHipolitoCorreia/Papers/1267411/20_anos_de_arqueologia_e_museus ).
Mas a cobardia do anonimato (ou do pseudonimato) incomoda-me e, tal como a arbitrariedade, preocupa-me.
Virgílio Hipólito Correia

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Direção do GAMNA toma primeira posição e anuncia acções próximas

Prezados Amigos,

Em face das notícias chocantes aparecidas nos jornais, referindo a não continuidade do Dr. Luís Raposo no lugar de Director do nosso Museu, a direcção do GAMNA reuniu na 2ª Feira, dia 16 de Janeiro, para se inteirar da situação e decidir sobre medidas e formas de acção a empreender.
Depois de confirmado o essencial das notícias vindas a lume e após análise ponderada, entendemos dar imediato seguimento a um conjunto de iniciativas com o objectivo de protestar contra uma situação que nos causa a mais profundo incómodo.
Não está em causa apenas o caso concreto e o nosso Museu. Estão em causa valores ainda mais profundos e que se resumem em saber que futuro queremos para os museus nacionais? Que futuro para as instituições em que se guarda a memória histórica da nação?
Tendo presente este enquadramento, informamos que iremos divulgar dentro de dias uma Carta-Aberta ao conjunto da comunidade nacional, a qual faremos divulgar amplamente.
Iremos também promover um fórum de encontro e recolha de reflexões e comentários sobre toda esta temática.
A seu tempo, iremos ainda promover uma Assembleia-Geral do GAMNA, assim como editar um livro que fique como memória e instrumento de denúncia de tudo o que tem sucedido ao nosso Museu, nos últimos anos.
Esperamos nesta nossa luta contar com a participação de todas as associações, nomeadamente Amigos de Museus, e pessoas individuais que se nos queiram associar.
Apoiaremos incondicionalmente o Dr. Luís Raposo nas acções que entenda necessárias para contestar administrativa ou judicialmente o despacho que o não reconduz da direcção do nosso Museu e ainda instaremos a que se candidate a qualquer concurso que hipoteticamente venha a ser aberto, embora respeitemos as suas opções, quaisquer que sejam.
O que está em causa é sintoma de algo muito mais vasto e inquietante. O que aconteceu ao Dr. Luís Raposo aconteceu a todos nós e leva-nos a questionar a transparência de processos de decisão do Estado e a ética dos seus agentes.
A todos pedimos que se mantenham atentos e intervenham pelas formas que considerem mais adequadas. Na crise por que passamos não nos podemos demitir da responsabilidade de saber gerir, proteger e salvaguardar o nosso património.

A Direcção do GAMNA, em 16 de Janeiro de 2012

ICOMOS Portugal toma posição: saúda o desempenho público "limpo e luminoso" do Dr. Luís Raposo

O Conselho de Administração da Comissão Nacional Portuguesa do Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios (ICOMOS Portugal) manifesta publicamente o reconhecimento e o apreço pela acção do Dr. Luís Raposo ao longo do tempo em que desempenhou o cargo de Director do Museu Nacional de Arqueologia.
A comunicação social divulgou a não recondução do Dr. Luís Raposo à frente do mais importante museu de arqueologia português e um dos mais importantes e populares museus do país. Trata-se sem sombra de dúvida de uma notícia que interessa a todos os agentes e profissionais do património cultural português e também a todos os cidadãos que desenvolvem nas suas vidas preocupações culturais e se interessam pela “coisa pública” e pela participação nas discussões dos grandes temas que ela implica.
O Dr. Luís Raposo é um cidadão praticante e desempenhou o cargo de Director do Museu Nacional de Arqueologia obedecendo a esse princípio, conjugando de forma que podemos considerar exemplar o exercício da cidadania, da liberdade de pensamento, do espírito crítico com o respeito consequente que a lealdade hierárquica e institucional do cargo obriga. E isto não é coisa pouca nos tempos que vivemos, sobretudo na última década da nossa vida cultural pública.
Para além deste aspecto, o Dr. Luís Raposo foi também um competente e dinâmico director do Museu Nacional de Arqueologia, com os poucos recursos de que dispunha. Trata-se também de alguém que, na área da museologia e respectiva reflexão crítica e teórica, reúne qualidades publicamente demonstradas na participação informada em torno das grandes questões actuais. Ele é o Presidente do ICOM (Conselho Internacional dos Museus) em Portugal, organização congénere do ICOMOS, ambas filiadas na mesma matriz de cultura patrimonial, desenvolvida principalmente no período de paz e de desenvolvimento cultural que a Europa conheceu a seguir à segunda guerra e principalmente na segunda metade do século XX. Esta matriz é a dos valores de liberdade e espírito crítico, conhecimento e educação, cultura e diálogo, tolerância e respeito pelas várias visões do mundo, valorização do nosso património e da cultura como um direito, valores que foram de alguma forma institucionalizados e internacionalizados com a criaçao da UNESCO e do seu Acto Constitutivo, logo a seguir ao fim da segunda guerra mundial.
Estes são os nossos valores e em nome deles tentamos desempenhar a nossa missão de organização não governamental, internacional e independente para a conservação do património cultural construído. Em nome deles também assinalamos de forma distintiva a acção do Dr. Luís Raposo e o contributo que lhe devemos na promoção de uma cidadania activa para o património cultural, com a coragem do pensamento crítico e livre, bem precioso e raro que devemos estimar e publicamente apoiar.
Saudamos pois o Dr. Luís Raposo pelo seu limpo e luminoso desempenho público.
Pelo Conselho de Administração do ICOMOS Portugal
Ana Paula Amendoeira
(Presidente)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Um infâmia - diz o Arqueólogo Santiago Macías

Luís Raposo recebeu uma carta, informando-o que não vai continuar a ser o diretor do Museu Nacional de Arqueologia. Assim, sem mais.

Luís Raposo vai, assim, pagar os anos de excelente trabalho à frente do MNA, que projetou dentro e fora de portas. Vai, sobretudo, pagar a coerência das suas posições quanto ao futuro do MNA e dos museus em Portugal e vai pagar a frontalidade e coragem com que as assumiu e expressou publicamente.

Meu caro Luís, como te disse anteontem em curta mensagem, tudo isto se resume a uma palavra: INFÂMIA. A tua demissão, pois disso se trata, atinge quem a decidiu, não te atinge a ti.

Santiago Macías

Do blogue http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/

Reacção do Presidente da Associação dos Arqueólogos Portugueses ao afastamento do Dr. Luís Raposo

A recente notícia da não recondução do Dr. Luís Raposo como Director do Museu Nacional de Arqueologia, embora não me tenha apanhado de surpresa, não deixa por isso de ser chocante, não pelo facto em si, mas pelas circunstâncias em que ocorreu, pela sua excepcionalidade em relação aos outros directores de museus nacionais, e por se tratar de uma clara perseguição pessoal e política a quem ousa questionar, ainda que pela via hierárquica, decisões políticas tecnicamente erradas e lesivas do bem comum, e manifestar em público as suas opiniões, ainda que na qualidade de cidadão.
Apelo, por isso, a todos os colegas e amigos, que sempre se têm batido em defesa do património cultural, da liberdade de expressão, e da cidadania, a manifestarem, do modo que melhor entenderem, a sua indignação por esta decisão, tomada pelo director de uma instituição moribunda, em nome de uma pretensa nova orientação política, ainda
inexistente, ou pelo menos ainda não submetida ao escrutínio democrático, quem sabe se para garantir a preservação do seu próprio lugar na nova instituição que tutelará o património cultural do país.
Caros colegas e amigos, os tempos que se avizinham são bastante negros. As forças obscuras e misteriosas que nos conduziram à beira do abismo, subvertendo instituições outrora luminosas e libertadoras, são implacáveis e insaciáveis, pelo que a solidariedade entre todos nós, obreiros do património, sem outra obediência que a da nossa consciência cívica, se torna cada vez mais necessária.

José Morais Arnaud

Raposo estranha não ser reconduzido no Museu Nacional de Arqueologia

Notícia do Diário de Notícias, edição em papel de 13 de Janeiro de 2012.

Luís Raposo deixa direcção do Museu de Arqueologia

No Publico, edição em papel de 13 de Janeiro de 2012, encontramos novas pistas para compreender a não recondução do Dr. Luís Raposo. A ler com atenção e nas entre-linhas...

Declaração do Dr. Luís Raposo ao Jornal Público

Pela sua importância solicitámos ao Dr. Luís Raposo a breve declaração que prestou ao jornal Público, citada na notícia abaixo, e aqui a transcrevemos na íntegra:

Confirmo que recebi por escrito uma comunicação do ainda director do IMC, na qual me transmite um despacho seu que determina a não renovação do meu mandato directivo no MNA.

Não quero por agora comentar, porque desconheço os fundamentos dessa decisão. Só depois de maior reflexão, avaliarei o que devo dizer e o que quero fazer. Seja como for, parece-me evidente que se trata de uma decisão que qualifica muito mais quem a toma do que quem lhe sofre o efeito.

É sabido que sempre considerei ser director de museu como um lugar de missão, necessariamente a prazo. Por isso tenho para mim que uma coisa é a defesa do Museu em que trabalho há mais de três décadas, pelo qual lutei variadas vezes como director que sou há década e meia, a última das quais no final da anterior legislatura, para impedir a sua transferência para a Cordoaria Nacional, um plano do Estado Novo, desenterrado pelo anterior SEC. Outra coisa é a defesa de um lugar, mesmo o meu. Na primeira situação justificam-se todos os combates; na segunda, só aqueles que visem defender a transparência dos processos, o bom-nome dos atingidos e sejam ainda compatíveis com o gozo que as coisas nos dão na vida. Ora, eu sou acima de tudo arqueólogo e não considero a direcção de museus como carreira.

E mais não digo, por agora.

Luís Raposo

Luís Raposo não foi reconduzido como director do Museu Nacional de Arqueologia

Luís Raposo vai deixar de ser o director do Museu Nacional de Arqueologia, cargo que ocupa há 16 anos. O arqueólogo, que é também presidente da comissão portuguesa do Conselho Internacional de Museus (ICOM) e representante do sector no Conselho Nacional de Cultura, foi informado por escrito da decisão da tutela de não o reconduzir. O despacho assinado pelo ainda director do Instituto de Museus e da Conservação (IMC), João Brigola, chegou há dias, embora a tomada de posição fosse aguardada até 30 de Dezembro.



“Não quero por agora comentar, porque desconheço os fundamentos dessa decisão”, disse Raposo ao PÚBLICO, por email. “Só depois de maior reflexão, avaliarei o que devo dizer e o que quero fazer. Seja como for, parece-me evidente que se trata de uma decisão que qualifica muito mais quem a toma do que quem lhe sofre o efeito.”

Luís Raposo fazia parte de um grupo de directores de museus e palácios que aguardavam notícias do IMC quanto à sua permanência, ou não, no cargo, até ao final do ano. Desse grupo faziam parte Silvana Bessone, do Museu Nacional dos Coches, Inês Ferro, do Palácio Nacional de Sintra, e José Carlos Alvarez, do Museu Nacional do Teatro – todos foram reconduzidos. Apenas Dóris Santos, do Museu Dr. Joaquim Manso, da Nazaré, não terá visto renovada a sua comissão de serviço (as comissões são de três anos). Nos museus nacionais, apenas Raposo ficou de fora.
Muito crítico da acção da tutela na área dos museus nos últimos anos, particularmente activo em episódios muito mediáticos como a anunciada transferência do Museu Nacional de Arqueologia para a Cordoaria Nacional, o futuro do Museu de Arte Popular, o novo Museu Nacional dos Coches e a gratuitidade dos museus, Raposo mostrou-se particularmente desconfiado em relação à eficácia da Direcção Geral do Património Cultural (DGPC) que a secretaria de Estado da Cultura anunciou e em cuja lei orgânica está neste momento a trabalhar. A futura DGPC deverá agrupar as áreas do património arquitectónico e arqueológico e a dos museus.
“É sabido que sempre considerei ser director de museu como um lugar de missão, necessariamente a prazo. Por isso tenho para mim que uma coisa é a defesa do museu em que trabalho há mais de três décadas, pelo qual lutei variadas vezes como director que sou há década e meia, a última das quais no final da anterior legislatura, para impedir a sua transferência para a Cordoaria Nacional, um plano do Estado Novo, desenterrado pelo anterior secretário de Estado [Elísio Summavielle]. Outra coisa é a defesa de um lugar, mesmo o meu”, explica. “Na primeira situação justificam-se todos os combates; na segunda, só aqueles que visem defender a transparência dos processos, o bom-nome dos atingidos e sejam ainda compatíveis com o gozo que as coisas nos dão na vida. Ora, eu sou acima de tudo arqueólogo e não considero a direcção de museus como carreira.”
Luís Raposo, Especialista em Pré-História Antiga (Paleolítico), é arqueólogo do MNA há 33 anos.
Contactado pelo PÚBLICO, o director do IMC garante que a não renovação da comissão de Raposo à frente do MNA nada tem a ver com uma má avaliação do seu desempenho. Dóris Santos também não foi afastada por incompetência. “Tenho de avaliar vários parâmetros e alguns têm a ver com eventuais alterações de políticas”, explica Brigola. “A renovação destes cargos é uma situação absolutamente normal. Por mote próprio, os directores deviam colocar o seu lugar à disposição ciclicamente, concorrendo ao cargo em igualdade de circunstâncias com eventuais candidatos, até para se religitimarem.” O director do IMC defende que “as pessoas não se podem eternizar nos lugares” e que “a renovação é fundamental”.

Notícia do Jornal Publico, na edição on-line (12 de Janeiro de 2012)