A Comissão Nacional Portuguesa do Conselho Internacional dos Museus (ICOM) defende a realização de sondagens na zona da Cordoaria Nacional para avaliar riscos sísmicos e de inundação do espaço que deve albergar o Museu Nacional de Arqueologia (MNA). A comissão lançou também ontem uma petição online em que apela ao "bom senso" do Governo e pede que se mantenham "todas as condições de operacionalidade do Museu nos Jerónimos".
Em causa está a transferência do MNA do Mosteiro dos Jerónimos - espaço que deverá ser entregue ao Museu da Marinha - para o edifício da Cordoaria, perto do local onde será construído o novo Museu dos Coches, e que tem sido alvo de contestação pelos arqueólogos.
Na sequência de uma assembleia geral da Comissão Nacional Portuguesa do Conselho Internacional dos Museus, a instituição lançou a petição, que tem como primeira signatária a historiadora de arte e ex-directora do antigo Instituto Português de Museus Raquel Henriques da Silva. O documento, que contava à altura da publicação deste texto com 100 assinaturas, tem como destinatário o Ministério da Cultura. Raquel Henriques da Silva escreve na petição que espera que ela "ainda vá a tempo de ajudar a ministra da Cultura a decidir-se". "Os dados disponíveis apontam claramente para este facto: não há nenhuma certeza que a Cordoaria seja o bom destino!", remata.
Na petição, a comissão nacional do ICOM frisa que é "óbvia a necessidade da realização de um programa de sondagens e de verificações in loco" para avaliar qual a situação da Cordoaria "em matéria de riscos sísmicos, maremoto, efeito de maré, inundação e infiltração de águas salgadas", lembrando o exemplo da Madeira, cujo Museu do Açúcar perdeu grande parte do seu espólio com o mau tempo.
Os peticionários sublinham ainda que Gabriela Canavilhas tinha pedido ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) um parecer sobre as condições geotécnicas da Cordoaria, manifestando estranheza perante a polémica entre a tutela e a direcção do MNA quanto à devolução da Torre Oca e ao prosseguimento do processo de transferência. E referem: "O estudo tranquilizador que se dizia ter sido pedido ao LNEC deu afinal lugar a parecer meramente pessoal do técnico convidado para o efeito".
Na semana passada, o director do MNA, Luís Raposo, dizia ao PÚBLICO que estava iminente uma "situação de ruptura" com a tutela depois de o Ministério da Cultura ter pedido que a Torre Oca fosse devolvida à Marinha depois de esta a ter cedido ao MNA em 1993. A torre é uma garantia para a Marinha, que vai ceder a Cordoaria ao MNA.O motivo pelo qual Luís Raposo considerava não ser possível abdicar da Torre Oca prende-se exactamente com o facto de ainda não conhecer provas de que a Cordoaria Nacional tem condições de segurança para receber o espólio arqueológico.
O Instituto dos Museus e da Conservação, por seu turno, reiterou de que o prazo de 8 de Maio para a devolução do espaço da Torre Oca é para manter. A situação já tinha motivado a primeira reunião das duas associações de profissionais do sector (Associação dos Arqueólogos Portugueses e Associação Profissional de Arqueólogos) no dia 20, que consideraram que a transferência do MNA é "um erro grave ou até um crime de lesa-património".
Na petição que se encontra na Internet sob o título "Em Defesa do Museu Nacional de Arqueologia", a comissão nacional pede ainda que se mantenham "todas as condições de operacionalidade do Museu nos Jerónimos" enquanto "não estiver garantida a segurança geotécnica" do novo espaço, considerando "inaceitável" a exigência de devolução iminente da Torre Oca.
O IMC mantém a intenção de transferir o MNA para a Cordoaria e garante, nas palavras do seu director, João Brigola, em declarações ao PÚBLICO na semana passada, que "o estudo geológico foi feito" e que "os riscos [que a Cordoaria representa] são os mesmos em toda a zona ribeirinha", estimando que a Cordoaria dará mais espaço expositivo ao MNA.
30.03.2010 - 12:47 Por Lusa, PÚBLICO
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