José Miguel Júdice, jurista eminente e promotor de várias intervenções de valorização e refuncionalização em bens patrimoniais, referiu-se ao que chamou as “quatro placas tectónicas” do património: o respeito pela tradição ou autenticidade, a importância da captação de públicos, a adaptação a novos usos e o processo criativo inerente às transformações consideradas necessárias. Trata-se de dimensões que se encontram em tensão permanente e passam por diferentes estratégias de intervenção: reabilitação, reconstrução, restauro, reabilitação. José Miguel Júdice referiu-see em especial, dando exemplos bons e exemplos maus, ao que considerou serem “traumatismos” e “dissonâncias” com as envolvências dos lugares. No conjunto defendeu uma postura de contenção, de modéstia até, sempre que se trate de valores patrimoniais – o que de modo nenhum é incompatível com a modernidade.
Luís Serpa, curador e gestor de projectos culturais, apresentou perspectiva diversa, que pretendeu constituir uma intencional divergência de pontos de vista. Defendeu sobremaneira o pulsar criativo de todos os intervenientes no processo de fruição patrimonial, com especial relevo para o papel do arquitecto e da arquitectura. A existência de tensões constitui condição do progresso e considerou que se deve caminhar de uma concepção hierárquica, piramidal de intervenção, onde as construções abstractas de política e de gosto (ou de ambos) ditam as normas, para uma nova articulação mais horizontal entre todas as disciplinas, numa óptica vincadamente criativa.
A questão dos museus de Belém foi referida por ambos os intervenientes e por alguns dos presentes durante o debate que se seguiu. José Miguel Júdice teve ocasião de explicar as circunstâncias concretas em que interveio no processo do novo Museu dos Coches – um tema em que as posições divergentes acabaram afinal por conduzir à sua maior aproximação ao mundo dos museus e dos seus profissionais. Quanto à Cordoaria Nacional, foi salientada a sua natureza própria e o provável mau uso patrimonial que constituirá a instalação do MNA no local.
Mesa da sessão, moderada por Pedro Roseta.
José Miguel Júdice no uso da palavra.
Luís Serpa no uso da palavra.
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