Um importante texto da Dra. Jacinta Bugalhão, que dá o enquadramento da história recente de toda a situação vivida hoje pelo MNA. Para ler e reflectir.
Há muitos anos atrás, uma avisada dirigente do Ministério da Cultura soube que o “quase” quarteirão das antigas Oficinas Gerais do Exército (mesmo em frente à estação de comboios de Belém) iria ser alienado. Fazendo uso de um excelente sentido de oportunidade, conseguiu que a aquisição fosse concretizada, impedindo que aquele espaço de excelente localização entrasse no usual jogo especulativo urbanístico e reservando-o para uma desejada e necessária expansão do Museu dos Coches, situado logo ali ao lado. Mas as coisas são como são, e como por magia surge a intenção de construção de um novo museu naquele espaço, libertando o antigo picadeiro real para outra utilização: aí se instalaria a Escola Portuguesa de Arte Equestre Portuguesa (actualmente sediada no Palácio Nacional de Queluz), que utilizando o antigo picadeiro como área de exposição e demonstração para os potenciais clientes ganharia uma “loja” no melhor espaço turístico da capital, talvez do país. Foram várias, ao mais alto nível e até um momento recente, as tentativas governamentais para concretizar esta agressiva operação comercial, que se traduziria na destruição de um dos melhores, senão o melhor, núcleo museológico histórico português, no qual um extraordinário acervo móvel se apresenta ao público fantasticamente integrado num belíssimo e adequado exemplar de património construído (talvez por isto o mais visitado museu do país…). Felizmente e após feroz e unânime oposição de museólogos e técnicos de património e como o apoio (discreto mas eficaz) do Presidente da República (pelos méritos dos argumentos e talvez por não gostar da vizinhança em perspectiva), lá foi reposta alguma racionalidade no processo e o Museu nos Coches não sairá do seu edifício, sendo “ampliado” para o novo módulo em fase de construção.
(...)
A Ministra da Cultura quer demitir o Director do MNA porque o Estado e o Governo não perceberam ainda que o nosso maior recurso nacional é a nossa “paisagem cultural” e que por isso, o Património Cultural é um importante factor de desenvolvimento económico, como aliás crescentemente vem sendo afirmado por economistas idóneos e de quadrantes variados. Porque, tragicamente, não há política museológica neste país e isso é uma vergonha. Porque os nossos governantes por vezes parecem crianças a brincar no recreio, mas infelizmente brincam como o interesse público. Porque o Ministério da Cultura não tem uma política séria de gestão de espaços e avaliação de necessidades dos seus serviços. Porque, há interesses económicos fortes e bem relacionados que interferem com a esfera governamental com a maior das facilidades. Porque parece que caiu uma maldição sobre a Arqueologia Nacional; é muita coincidência, para não ser deliberado: existem interesses fortes dentro do Estado e fora do Estado, mas agindo por intermédio dele que querem anular os avanços conseguidos nos últimos 15 anos na salvaguarda do Património Arqueológico.
A Ministra da Cultura quer demitir o Director do MNA, porque é uma má ministra. A Ministra da Cultura quer demitir o Director do MNA porque ele é um excelente director de museu.
Veja o texto completo em:
http://ml.ci.uc.pt/mhonarchive/archport/msg08600.html
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