Director do Museu Nacional de Arqueologia reitera condições para sair dos Jerónimos
por Agência Lusa, Publicado em 07 de Abril de 2010
O diretor do Museu Nacional de Arqueologia voltou hoje a defender, perante deputados do Parlamento, a necessidade de garantir as condições geotécnicas e de adaptação da Cordoaria para aceitar a transferência do acervo dos Jerónimos.
Um grupo de 14 deputados da Comissão Parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura visitou hoje o Museu Nacional de Arqueologia (MNA), o Museu Nacional dos Coches e o Museu de Arte Antiga, todos em Lisboa, na sequência de um pedido urgente do Grupo Parlamentar do PSD.
Luís Raposo, diretor do MNA, acolheu os deputados da comissão, fez uma visita pelas instalações, incluindo a polémica Torre Oca que o vizinho Museu da Marinha espera receber a 08 de maio, e reiterou a defesa de "um planeamento estratégico" para fazer a passagem para o edifício da Cordoaria.
Em declarações à agência Lusa no final da visita, Luís Raposo salientou que está a lutar por estas garantias, mas considera que "há margens possíveis de consenso".
"Penso que ainda é possível haver um encontro de vontade política e soluções técnicas. Espero encontrar uma saída consensual [com a tutela]. As portas não estão fechadas", disse.
Sobre o facto da direção do Instituto dos Museus e da Conservação (IMC) também ter reiterado que pretende cumprir o acordo que reenquadra o museu, Luís Raposo recordou que "também o Conselho de Ministros queria fechar o Museu de Arte Popular, mas voltou atrás".
O diretor do MNA contou aos deputados um historial com décadas sobre projetos políticos para o museu - aberto ao público em 1906, e que já esteve quase para ter um espaço construído de raiz, na zona da Cidade Universitária - e respondeu a questões, sobretudo colocadas pelos deputados Maria Conceição Pereira (PSD), João Serrano (PS) e João Oliveira (PCP).
No final do encontro, questionada pela Lusa, Maria Conceição Pereira, que propôs a visita, disse existir "alguma preocupação e interrogações" por parte dos deputados sobre todo o processo de transferência.
"Com certeza que na próxima semana, quando a senhora ministra da Cultura estiver na Assembleia da República, vamos tentar perceber todas estas questões", apontou.
Entre outras questões que queriam ver respondidas, os deputados da comissão apontaram "o porquê de não ter sido consultado o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e qual a urgência da entrega da Torre Oca à Marinha".
"A questão dos custos da transferência do Museu de Arqueologia e da sua manutenção também têm de ser aprofundadas e estudadas", comentou a deputada social-democrata.
Em relação ao Museu Nacional dos Coches, visitado anteriormente pelos deputados da comissão, a quem a diretora, Silvana Bessone, manifestou preocupação com os riscos da transferência das peças para o novo complexo em construção, Maria Conceição Pereira considerou também que não estão esclarecidas questões de segurança e do impacto do novo espaço na afluência de visitantes.
A nova direção do IMC também acompanhou a visita pelos museus, a par de arqueólogos e alguns membros do Grupo de Amigos do MNA.
Questionado pela Lusa sobre se mantém a data para a entrega da Torre Oca, João Brigola, diretor do IMC, sublinhou que aquele organismo "não tem uma visão cega da situação, mas há muitas pessoas da área da arqueologia que apoiam a transferência, entre elas o arqueólogo Cláudio Torres, que já o disse publicamente".
"Gostaríamos que o diretor do Museu Nacional de Arqueologia, por quem tenho grande consideração, acompanhasse todo este processo. A ordem de serviço está dada e tem de ser cumprida", vincou.
Na sua opinião, o IMC está a conduzir o processo com "muita firmeza e serenidade": "Claro que o museu não vai sair daqui encaixotado, e nunca antes de 2012".
Este ano decorre uma fase de projetos e estudos, em 2011 o IMC conta iniciar as obras e espera que esteja concluído em 2012.
Quanto ao espaço que a Marinha pretende recuperar a 08 de maio, João Brigola comentou: "Este museu esteve quase 90 anos sem a Torre Oca", que tem sido usada para iniciativas culturais como conferências e colóquios.
"O museu está muito mal instalado há um século. Queremos resgatar a coleção e dar-lhe espaço para respirar" na Cordoaria, sustentou.
Comentário:
Lamentavelmente, o Director do IMC tem vindo a adoptar em todo este processo o lugar de “voz do dono”. E até parece que o faz com prazer, mostrando boa folha de serviços aos responsáveis do Ministério da Cultura, que assim vão diferindo enquanto podem o inexorável desgaste em que já se encontram.
Afirma aqui o Director do IMC que “há muitas pessoas da área da arqueologia que apoiam a transferência” e dá um único exemplo, o do “arqueólogo Cláudio Torres, que já o disse publicamente”.
Pois bem: se existem, está na hora dessas “muitas pessoas” se apresentarem, sem ser através da intermediação do Director do IMC. Digam se sim, se "apoiam a transferência“ e em que condições. Sim, porque o Director do MNA e nós mesmo também podemos dizer que apoiamos essa transferência… em determinadas condições. Até o arqueólogo Cláudio Torres, que desde 2007 tem vindo a subscrever as posições do IGESPAR, desde que foi nomeado vogal do seu Conselho Consultivo, concorda em que se façam na Cordoaria os estudos e se tomem as medidas geotécnicas necessárias. Ou não ?
Existe algum arqueólogo que ache que o MNA pode ir para a Cordoaria sem as devidas condições? Existe algum arqueólogo que ache que faz sentido a entrega imediata da Torre Oca à Marinha?
Se há, chegue-se à frente ou peça ao Director do IMC que o denuncie.
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Boa Noite!
ResponderEliminarÉ absolutamente normal que existam arqueólogos que estejam de acordo com a posição do Ministério ou que sejam neutros. Nem me parece obrigatório que se pronunciem publicamente.
Cordialmente,
Francisco Sande Lemos